"Teixeira dos Santos esbarrou sempre na teimosia e obstinação de José
Sócrates. Vítor Gaspar convenceu Passos Coelho de que é apenas determinado e
governa pelas suas convicções. Teixeira dos Santos só conseguiu vincar a sua
posição traindo o primeiro-ministro. Vítor Gaspar ganhou uma força exagerada
junto do actual líder do Executivo. Os ministros das Finanças têm o poder que os
primeiros-ministros lhes dão. Gaspar tem poder a mais. Ninguém questiona as
capacidades técnicas do ministro das Finanças. Nem as dificuldades da sua
pasta. Mas ser gestor ou governante é muito diferente. E Gaspar ainda não
provou ser eficaz em nenhuma dessas áreas para que Passos Coelho não deva
questionar algumas das suas propostas: errou em todos os números mas insiste
neles, antes de ter tempo para ler o que disseram os responsáveis do FMI e o
Presidente da República; mantém a obsessão pelas receitas fiscais que lhe
falharam em toda linha, como era óbvio para qualquer taxista de Lisboa a quem
os recibos há muito "queimam"; e tem uma manifesta falta de bom senso
social e de capacidades políticas num momento em que o País, esmagado pela
crise e pela austeridade, mais delas precisam. O ministro que conseguiu colocar
Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix como os actuais líderes da oposição sai de
todos as reuniões de governo cada vez mais todo-poderoso, como sendo o único a
ter razão, porque Passos o permite. Tem feito vincar todas as suas medidas (e
todos sabemos que a TSU só caiu porque a alternativa era cair todo o Governo),
porque em vez de receber do primeiro-ministro doses de moderação e equilíbrio,
recebe solidariedade até nas gargalhadas depreciativas contra o parceiro de
coligação.
O Governo mínimo que cresce, cresce...
O ministro das Finanças vai ter mais um secretário de Estado. Na
minirremodelação governamental que obrigou à substituição em algumas pastas,
Passos Coelho decidiu acres-centar o Executivo. E este crescimento do
ministério que mais cortes ordena é revelador. Confirma, por um lado, que a
decisão populista de montar o Governo mais curto de sempre tornou-se, além de
um erro evidente, uma mentira: há ministros e eficácia a menos, mas há
secretários, assessores, conselheiros e problemas que nunca mais acabam. Mostra,
por outro, que a questão das privatizações (área para a qual Manuel Rodrigues
foi "contratado") é muito mais complicada do que o previsto e vai
muito para além das controvérsias de António Borges, o consultor, satélite ou
espécie de ministro-sombra, que as tem tutelado: afinal não são sete cães a um
osso os interessados nas empresas nacionais, como se está a ver com a TAP ou os
restantes transportes públicos, em que os únicos compradores exigem ser bem
compensados. E, por fim, encerra uma leitura política: a chamada para o Governo
do vice-presidente do PSD que ao lado de Catroga negociou o último Orçamento de
Sócrates não é obviamente ingénua. Os sociais-democratas ganham peso no
ministério mais influente deste Governo e onde já eram públicos os conflitos
com o único elemento do CDS.
As velocidades de Mota Soares
Mota Soares ficou "marcado" pela rapidez com que trocou a
Vespa, emblemática e adequada à crise, com que foi à tomada de posse, pelo
carro, veloz e imponente, que o cargo de ministro lhe garante. Arrisca agora
ficar lembrado pela forma ainda mais rápida com que recuou numa medida que
acabara de anunciar. Gostava de acreditar estarmos apenas perante uma tática
política: fazer crer que vem aí algo terrível (10% de corte no valor mínimo dos
subsídios de desemprego), para que o mau (redução de 6%) seja aceite quase como
bom. Infelizmente, acho que é apenas desorientação total: o Governo e os seus
ministros navegam à bolina, entalados entre as orientações de Vítor Gaspar e as
pressões da oposição, dos parceiros sociais e da rua, numa estrada para a
descredibilidade total. Mota Soares, um delfim de Paulo Portas, foi para uma
pasta sensível e cara ao CDS-PP, a da Segurança Social. Mas a realidade do País
mudou.
O partido do contribuinte queria pôr na ordem os rendimentos sociais
distribuídos ao desbarato e rever as reformas rurais e dos antigos combatentes.
Mas já não há gente que preferia receber subsídio de desemprego ou rendimento
social de inserção a trabalhar. O que não há é trabalho. E muito menos dinheiro
para distribuir. Das primeiras vezes que o CDS gritou para as manchetes dos
jornais que ia cortar impostos ao Orçamento, muitos ainda acreditaram. Agora,
mesmo que Mota Soares suba pensões mínimas ou mude as regras aos abonos, já
ninguém liga. As trapalhadas pesam mais do que os simbolismos."
Ps - Os vídeos são um acrescento meu.
Ps - Os vídeos são um acrescento meu.
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