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sábado, 27 de outubro de 2012

Da fraqueza de Teixeira à força de Gaspar:

Filomena Martins

"Teixeira dos Santos esbarrou sempre na teimosia e obstinação de José Sócrates. Vítor Gaspar convenceu Passos Coelho de que é apenas determinado e governa pelas suas convicções. Teixeira dos Santos só conseguiu vincar a sua posição traindo o primeiro-ministro. Vítor Gaspar ganhou uma força exagerada junto do actual líder do Executivo. Os ministros das Finanças têm o poder que os primeiros-ministros lhes dão. Gaspar tem poder a mais. Ninguém questiona as capacidades técnicas do ministro das Finanças. Nem as dificuldades da sua pasta. Mas ser gestor ou governante é muito diferente. E Gaspar ainda não provou ser eficaz em nenhuma dessas áreas para que Passos Coelho não deva questionar algumas das suas propostas: errou em todos os números mas insiste neles, antes de ter tempo para ler o que disseram os responsáveis do FMI e o Presidente da República; mantém a obsessão pelas receitas fiscais que lhe falharam em toda linha, como era óbvio para qualquer taxista de Lisboa a quem os recibos há muito "queimam"; e tem uma manifesta falta de bom senso social e de capacidades políticas num momento em que o País, esmagado pela crise e pela austeridade, mais delas precisam. O ministro que conseguiu colocar Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix como os actuais líderes da oposição sai de todos as reuniões de governo cada vez mais todo-poderoso, como sendo o único a ter razão, porque Passos o permite. Tem feito vincar todas as suas medidas (e todos sabemos que a TSU só caiu porque a alternativa era cair todo o Governo), porque em vez de receber do primeiro-ministro doses de moderação e equilíbrio, recebe solidariedade até nas gargalhadas depreciativas contra o parceiro de coligação.
O Governo mínimo que cresce, cresce...
O ministro das Finanças vai ter mais um secretário de Estado. Na minirremodelação governamental que obrigou à substituição em algumas pastas, Passos Coelho decidiu acres-centar o Executivo. E este crescimento do ministério que mais cortes ordena é revelador. Confirma, por um lado, que a decisão populista de montar o Governo mais curto de sempre tornou-se, além de um erro evidente, uma mentira: há ministros e eficácia a menos, mas há secretários, assessores, conselheiros e problemas que nunca mais acabam. Mostra, por outro, que a questão das privatizações (área para a qual Manuel Rodrigues foi "contratado") é muito mais complicada do que o previsto e vai muito para além das controvérsias de António Borges, o consultor, satélite ou espécie de ministro-sombra, que as tem tutelado: afinal não são sete cães a um osso os interessados nas empresas nacionais, como se está a ver com a TAP ou os restantes transportes públicos, em que os únicos compradores exigem ser bem compensados. E, por fim, encerra uma leitura política: a chamada para o Governo do vice-presidente do PSD que ao lado de Catroga negociou o último Orçamento de Sócrates não é obviamente ingénua. Os sociais-democratas ganham peso no ministério mais influente deste Governo e onde já eram públicos os conflitos com o único elemento do CDS.
As velocidades de Mota Soares
Mota Soares ficou "marcado" pela rapidez com que trocou a Vespa, emblemática e adequada à crise, com que foi à tomada de posse, pelo carro, veloz e imponente, que o cargo de ministro lhe garante. Arrisca agora ficar lembrado pela forma ainda mais rápida com que recuou numa medida que acabara de anunciar. Gostava de acreditar estarmos apenas perante uma tática política: fazer crer que vem aí algo terrível (10% de corte no valor mínimo dos subsídios de desemprego), para que o mau (redução de 6%) seja aceite quase como bom. Infelizmente, acho que é apenas desorientação total: o Governo e os seus ministros navegam à bolina, entalados entre as orientações de Vítor Gaspar e as pressões da oposição, dos parceiros sociais e da rua, numa estrada para a descredibilidade total. Mota Soares, um delfim de Paulo Portas, foi para uma pasta sensível e cara ao CDS-PP, a da Segurança Social. Mas a realidade do País mudou. 
O partido do contribuinte queria pôr na ordem os rendimentos sociais distribuídos ao desbarato e rever as reformas rurais e dos antigos combatentes. Mas já não há gente que preferia receber subsídio de desemprego ou rendimento social de inserção a trabalhar. O que não há é trabalho. E muito menos dinheiro para distribuir. Das primeiras vezes que o CDS gritou para as manchetes dos jornais que ia cortar impostos ao Orçamento, muitos ainda acreditaram. Agora, mesmo que Mota Soares suba pensões mínimas ou mude as regras aos abonos, já ninguém liga. As trapalhadas pesam mais do que os simbolismos."
Ps - Os vídeos são um acrescento meu.

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