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sábado, 16 de junho de 2012

Carta de uma mãe alentejana para um filho que está na Bósnia


"Mê querido filho. 
Escrêvo-te algumas linhas apenas pra saberes questou viva. Estou-te a escrever devagar, pois ê sei que nã sabes ler depressa. Aqui vã as novedades:
- Nã vais reconhecer a nossa casa quando voltares. Tê pai leu no jornal que os acidentes acontecem a vinte kilómetros de casa, por isso agente mudou-se. Não te posso mandar a morada, porque a última família caqui viveu levou os números com ela pra não terem de alterar a morada. 
-Temos uma máquina de lavar rôpa mas nã trabalha muito bêm, a semana passada pus lá 14 camisas, puxei a correnti e nunca mais as vi. 
-Acerca do tê pai, ele arranjou um bom emprego, tem 1500 homens debaixo dele, pois agora está cortando a relva no cemitério. 
-A magana da tua irmã Maria teve bebé esta semana, mas sabes, ê nã consegui saber sé menino ó menina, portanto nã sei sés tio ó tia. 
-O tê Ti Patrício afogô-se a semana passada num depósito de binho lá na adéga cuprativa, alguns cumpádris tentaram salvá-lo porra! Mas sabes, ele lutou bravamente contra eles. 
O corpo foi cremado mas levou 3 dias pra apagar o incêndio. 
-Na 5ª fêra fui ao médico e o tê pai foi comigo, o médico pôs-me um pequeno tubo na boca e disse-me pra nã falari durante 10 minutos. Atão nã sabes que o tê pai ofereceu-se logo pra comprar o tubo ao médico. 
-Esta semana só choveu duas vezes, na primeira vez choveu durante 3 dias, na segunda durante 4 dias. 
Nã segunda-fêra teve tanto vento que uma das galinhas pôs o mesmo ovo 4 vezes. 
-Recebemos uma carta do cangalhêro, que informava que se o último pagamento do enterro da tua avó nã for fêto no prazo de 7 dias, devolvem-na. 
Olha, mê filho, cuida-ti. 
Nã te esqueças de beber o lête todas as nôtes, antes de enterrares os cornos no travessêro.
Um bêjo." 
Jaquinha do Chaparro
José Manuel Junior

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