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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O 17 de Fevereiro de 1973:



Este dia vem-me sempre à memória. Não é por ser um dia diferente de tantos outos, aliás, este embora com sol, não deixa de ser um dia frio, o termómetro acusa aqui em Freamunde, 2º/13ºC, quem está postado ao sol recebe um calor referente aos meses de Inverno que são Dezembro, Janeiro e Fevereiro. Mas... do que quero falar é do 17 de Fevereiro de 1973. Sei que entre um e outro há bastantes anos (39) entre eles, mas a memória de quem a tem, - eu prezo-me disso – os sentimentos que sempre guardamos, leva-nos a lembranças, umas alegres, outras bastantes tristes.
O 17 de Fevereiro de 1973 era um dia quente, para cima de 30 graus, no Norte de Angola, zona dos Dembos. Decorria normalmente. Nesse dia não havia nenhum pelotão em operações pela mata do Kifuso, colunas de tropa ou outros afazeres a não ser um pelotão que fazia segurança aos trabalhadores da Junta Autónoma de Estradas de Angola (JAEA), que estavam a asfaltar a estrada, antes picada, do Caxito a Zala, indo nessa altura a chegar à Beira-Baixa. Além do calor, próprio da época em Angola, estava-se no Verão, também sentíamos o humano pelo motivo da aproximação do fim da nossa comissão com partida marcada para 3 de Abril.
Éramos uma Companhia de Caçadores, Nº. 3341, do Batalhão Nº. 3838, sediado em Quicabo. Fomos bafejados pela sorte e pelo bom comando do nosso Comandante de Companhia, capitão José Joaquim Lofgren Rodrigues. Tínhamos tido um ferido em acidente de trabalho com bastante gravidade, foi evacuado para o Hospital Militar de Luanda e mais tarde para o de Lisboa. Fracturou os ossos da Bacia, sendo hoje um deficiente das Forças Armadas, reside numa terra próxima da minha e se chama Carneiro, quando laborava na beneficiação do telhado do refeitório.

Mas, no dia e hora em que escrevo este texto, não do ano, esse é de 1973, como referi em cima, o nosso ânimo estava em baixo. Tinha partido de Balacende um nosso pelotão em coluna militar para Quicabo. O nosso capitão como a coluna estava um pouco atrasada resolveu partir antes numa viatura da JAEA juntamente com o motorista da referida viatura. Entretanto a coluna chegou a Quicabo e não encontrou o capitão e o motorista. Passado pouco tempo, como não o encontravam, quem chefiava a coluna militar foi dar conhecimento ao Comandante do Batalhão. Foi comunicado via rádio para Balacende para partir naquele momento outra coluna militar e fazer um reconhecimento nos pontos mais críticos da estrada que agora ligava Balacende a Quicabo. Assim se fez. A uns quilómetros de Balacende foi vista numa ribanceira, que estas obras originam nos troços por onde passam, a viatura da JAEA, com o Capitão Lofgren Rodrigues morto e o motorista da JAEA bastante ferido, tendo sido evacuado para o Hospital de Luanda. O Capitão como estava morto foi para Balacende para a Capela à espera que se processasse os afazeres próprios deste momento.
Estávamos incrédulos! Quem nos aconselhava a não nos abandalhar e exigia todo o rigor para que a nossa missão não originasse dissabores foi quem foi traído. Foi um final de dia triste. Foi escalado um grupo de soldados para lhe fazer a Guarda de Honra até o seu corpo ser transladado para Luanda. A capela esteve repleta de soldados, oficiais e sargentos a prestar-lhe a última homenagem, não havia civis, porque estávamos isolados na mata, a não ser os trabalhadores da JAEA que muita simpatia tinham por ele.
Até hoje julgava-o um solteirão. Sabia que tinha um filho e uma companheira em Luanda. Mas, como disse, hoje fui surpreendido com a notícia que era casado. Por isso acaso a esposa ou filho tenha acesso a este texto, envio-lhes os meus sinceros pêsames, por que vale a pena recordar o Homem e 0 Comandante como foi: José Joaquim Lofgren Rodrigues.
Paz à sua alma.

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