Hoje em todo o País celebra-se o dia de todos os Santos. Nos cemitérios as campas são todas arranjadas, algumas só neste dia é que são lembradas, tal o abandono em que se encontram. Contra mim falo, não sou pessoa de andar a correr para os cemitérios, as minhas irmãs se encarregam de todos os domingos assearem a campa de meus pais. Não é por não me lembrar deles, todos os dias vêm-me à memória e pelos melhores motivos. E, entre o andar a correr para lá prefiro lembrar certas peripécias.
Quando encontrava o meu pai na tasca a beber um copito de vinho convencia-o a vir embora comigo. No trajecto até casa e sempre que acendia um cigarro, para acertar com o fósforo no cigarro era um dia de juízo, às vezes só se apercebia quando lhe queimava os dedos.
Brincava com ele nunca se aborrecia. Era um parceirão. Nesses dias oferecia-me tudo, só era pena ter tão pouco. Cada passo, cada conversa. Quando reparava cada vez estávamos mais longe de casa, por cada passo para a frente dava dois para a retaguarda, o que me levou a propor-lhe que nos virássemos em sentido contrário, assim alcançávamos a casa mais depressa.
A minha mãe vinha abrir a porta, nesse tempo cada porta só tinha uma chave, e dizia não ganhas juízo Maximino, mas sempre com um carinho extremo, hoje é raro se ver, ajudava-o a despir-se e ele lá dormia a noite toda sem incomodar ninguém. Era um casal que se dava bem.
Quando o meu pai faleceu notei que com ele ia metade da vida de minha mãe, que não chegou a dois anos e ela também partia para a vida eterna.
Não me importava que hoje acontecesse o mesmo, tal a saudade que tenho deles e, como sempre no dia 1 de Novembro me disponho a fazer-lhes uma visita. Foi o que fiz hoje de manhã. As suas fotos, com um sorriso, pareciam que me estavam a agradecer.
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