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terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Segundo as últimas sondagens, os portugueses estão furiosos… mas só com a esquerda:

Estavam exaustos de viver num dos países mais seguros do mundo, cansados de uma economia que o The Economist punha no pódio, saturados de ver a dívida a cair, o défice domado e um mercado laboral que — tragédia nacional — criou mais empregos do que portugueses disponíveis.
No fundo, o país tinha saudades do aconchego dos 17% de desemprego, aquele silêncio das fábricas fechadas e das esplanadas vazias a cheirar a falência.
Agora, com esta modernice de ricos ao sol e à sardinha, investimento estrangeiro recorde a levantar gruas e portugueses e imigrantes a trabalhar, ninguém consegue fazer a sesta... que grande bandalheira.
Para piorar, a criminalidade violenta está 25% abaixo do tempo de Passos Coelho e o emprego em máximos — um escândalo, como é que se vende medo com estes dados a estragar a percepção?
Eu entendo, o governo do PS era "tão de esquerda", que a redistribuição foi feita com conta, peso e medida… mas para os de cima.
O crescimento económico não caiu nos salários, nem nas famílias, nem no SNS, nem na escola pública, ficou a fazer spa na teia dourada dos que financiam partidos e avençam políticos.
DIAGNÓSTICO:
“Faltavam políticas de esquerda no PS”
CONCLUSÃO LÓGICA:
"Mais políticas de esquerda."
CONCLUSÃO PORTUGUESA:
"Queremos políticas de Direita e Extrema-Direita para salvar o país dos indianos, das burcas e dos pansexuais que transformam o Natal no Ramadão ...e já agora, dar cabo da vida do trabalhador"
Genial.
Nobel da lógica para Portugal.
Toda a gente sabe, é a direita que protege o SNS dos privados... dando dinheiro ao privado para ir buscar os restantes médicos. Lógico.
A direita ama os trabalhadores... facilitando despedimentos, alongando a precariedade e embrulhando-os em outsourcing. Lógico.
Uma ternura. Yoga laboral: estica, torce, inspira… e assina aqui a perda de direitos.
A escola pública vai ser salva — mas sem a folga orçamental do PS, só será salva lá para 2087. Até lá, turmas para 34 e convocam-se reformados para dar aulas. Lógico.
Habitação cara? despeja-se dinheiro público nos senhorios, pois segundo o Manual Liberal, as rendas baixam por vibração quântica mal o senhorio receba uns milhares no IRS. Lógico.
Pensar nas causas? Que maçada.
Vota-se em quem berra mais alto “a culpa é do socialismo!” e já está...
As prioridades passam a ser: policiar imigrantes, burcas, ciganos, trabalhadores e aulas de cidadania que — ao que parece — transformam as crianças em salamandras, pansexuais comunas, bilingues e muçulmanas.
Num país sem braços suficientes, com 30 milhões de turistas/ano a pressionar as cidades, dependente de imigrantes na agricultura, construção, saúde, tecnologia e restauração — o supervilão é o coitado do paquistanês do Martim Moniz.
A pureza do nosso sangue tutti-frutti treme de medo...não com a invasão desses 30 milhões de turistas toooodoooos os anos, mas com a entrada de 1 milhão de imigrantes.
Dois terços do país acreditaram numa invasão trans + islâmica + gay + socialista + comunista + globalista + pró-burca + anti-Natal.
Uma mega-produção da paranóia bem encenada, uma produção que custou milhões aos mais ricos para assim ganharem milhares de milhões.
E assim o país segue, distraído, assustado, domesticado para culpar o vizinho do rés do chão.
Nunca os poderosos, nunca o especulador, nunca o iluminado que lhes tirou direitos enquanto lhes oferecia um autocolante de Portugal para colar no carro e uma bandeirinha para abanar.
Os mesmos que hoje estão zangados nas redes sociais a pisar os de baixo, serão exatamente os que vão ser engolidos pelo pacote laboral, pela privatização do SNS, pelo colapso da escola pública, pela habitação impossível e pelos impostos feitos à medida dos que já tinham de sobra antes de começar o jogo.
Basta um vídeo, um guru digital a gritar “Vão para a Venezuela” e lá vão eles marchar com essa indignação prêt-à-porter.
Portugal não foi capturado por ideias, foi capturado por paranóias em CAPS LOCK.
Num país que finalmente tinha jovens a voltar, investimento a entrar, estabilidade rara e condições para redistribuir… decidiu-se entregar tudo a quem vive de impedir que isso aconteça.
E assim, entre chalupas, medos e fobias importadas, o país que estava a erguer-se deixou-se tombar com medo da própria sombra.

No fim, não são imigrantes, nem burcas, nem géneros — é a forma como nos ensinam a ter medo de tudo para não olharmos para cima, para quem se ri enquanto cá em baixo se faz contas para chegar ao fim do mês.

Eduardo Maltez Silva 

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