A hostilidade do tribunal para com o meu advogado chegou a um ponto insuportável para a sua dignidade profissional. Na passada quinta-feira, a propósito do depoimento da minha mãe, a Senhora Juíza dirigiu-se-lhe afirmando que “acabou a brincadeira”. Sem nenhuma razão: o meu advogado tinha delegado a minha representação noutro colega que, infelizmente, chegou atrasado à sessão de julgamento por razões que explicou detalhadamente ao tribunal. E, no entanto, a senhora juíza aproveitou a oportunidade para, mais uma vez, maltratar o meu advogado e prejudicar a minha defesa.
Umas de maior importância que outras. Outrora assim acontecia. É por isso que gosto de as relatar para os mais novos saberem o que fizeram os seus antepassados. Conseguiram fazer de uma coutada, uma aldeia, depois uma vila e, hoje uma cidade, que em tempos primórdios se chamou Fredemundus. «(Frieden, Paz) (Munde, Protecção).» Mais tarde Freamunde. "Acarinhem-na. Ela vem dos pedregulhos e das lutas tribais, cansada do percurso e dos homens. Ela vem do tempo para vencer o Tempo."
Rádio Freamunde
https://radiofreamunde.pt/
terça-feira, 4 de novembro de 2025
Escandaloso:
Quero esclarecer que a minha Mãe tem noventa e quatro anos. Legalmente, exatamente por ser minha Mãe, não está obrigada a testemunhar, embora a sua vontade fosse fazê-lo.
No entanto, esse não foi o conselho do seu médico, que entendeu que a ida ao tribunal poderia agravar as doenças crónicas de que padece.
Assim sendo, não estando eu próprio em Portugal, pedi ao meu advogado que entregasse o atestado médico no tribunal pensando que todos compreenderiam a situação.
Estava profundamente equivocado: a senhora juíza achou que estávamos a brincar. Não, não estou a brincar – estou a fazer aquilo que um filho deve fazer: proteger a sua Mãe de noventa anos da humilhação planeada.
Facto muito revelador: na mesma sessão o Ministério Público dispensou uma testemunha alegando, entre outras razões, que esta tinha nascido em 1937. A minha Mãe nasceu em 1931.
A propósito deste episódio, o que ouvi nas televisões e nos jornais foi o costume: que a minha Mãe tinha faltado, que o meu advogado tinha faltado, que eu próprio tinha faltado.
Nada disto é verdade. O que é verdade é que o tribunal destratou sem razão o meu advogado levando ao ato extremo de renunciar ao seu mandato por considerar que não tem condições para exercer, de forma conveniente, a minha defesa.
Finalmente, e sem esconder a comoção com que o faço, quero deixar escrito que devo muito ao Dr. Pedro Delille- foi meu advogado, meu companheiro e meu amigo de todos estes anos. Por minha insistência aceitou continuar a representar-me nos processos internacionais que estão em curso. Foi a isto que chegámos.
José Sócrates
Ericeira, 3 de novembro de 2025
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