Rádio Freamunde

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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Um texto que põe a nu a hipocrisia ocidental, os líderes ocidentais são inimigos da Paz e contam com as televisões para passarem a mensagem de guerra:

Hoje, eram cerca das cinco da tarde quando me sentei para lanchar. Liguei a televisão, percorrendo meia dúzia de canais de notícias. Parei no primeiro, atraída por um título sobre o conflito em Gaza.
A notícia era crua: Israel matara cerca de uma centena de pessoas num só dia, entre as quais 46 crianças. O tom do narrador era estranhamente normalizado, burocrático. Não havia histerismo, nem indignação desmedida. A única frieza era a do próprio relato, que apresentava a morte de menores como um mero dado estatístico. A única emoção genuína veio das imagens: um pai palestiniano, desesperado, a chorar o seu bebé, o seu filho, o seu tesouro maior, arrancado do mundo de forma tão brutal.
De seguida, e sem qualquer transição, eis o senhor Trump a comentar o sucedido. A sua análise foi simples: "Fizeram bem". Afirmou que, perante a provocação do Hamas, Israel tem todo o direito de continuar, de persistir no massacre caso "os meninos do Hamas se portem mal". A naturalidade com que um líder ocidental defende o assassinato de crianças deixou-me fria.
O noticiário saltou então para outra geografia. Mostrou o senhor Putin numa reunião cordial, com especialistas, num ambiente de aparente paz e tranquilidade, como é seu hábito. Ao fundo, um quadro da época soviética, tenho uma réplica idêntica, comprada na Festa do Avante. Putin comunicava que a Rússia possui uma nova "arma invencível" para o caso de o seu povo ou país ser atacado. O seu discurso não era de ameaça gratuita, mas de aviso sóbrio aos inimigos da Rússia que podemos qualificar de sionistas, imperialistas, fascistas e genocidas.
E aqui reside o cerne da questão que o noticiário, involuntariamente, expôs: a gritante hipocrisia seletiva.
Quando uma criança ucraniana morre, os meios de comunicação e as elites ocidentais enchem-se de um histerismo performativo, de uma raiva dirigida contra a Rússia. No entanto, quando dezenas de crianças palestinianas são mortas, 46 num só dia, pelo governo de Israel, a mesma elite ocidental reage com um silêncio cúmplice ou, pior, com justificações cínicas. A Rússia, ao longo deste conflito, tem procurado, ainda que num cenário de guerra horrenda, atingir alvos de relevância militar. Israel, pelo contrário, mata indiscriminadamente, e o Ocidente trata essa carnificina como um direito de defesa.
Perante este mundo louco, onde a comoção é um recurso geopolítico e a vida humana tem um valor relativo, ainda me perguntam porque simpatizo com a posição russa?
A resposta é óbvia. Não se trata de uma adesão cega a Putin ou ao seu governo. Trata-se de uma rejeição visceral da hipocrisia assassina do outro lado. A Rússia é o lado que se opõe ao império que normaliza, financia e aplaude o genocídio em tempo real. Perante a escolha impossível entre um bloco que é abertamente belicista e genocida, e outro que, se lhe opõe, a minha solidariedade não pode ser com os carrascos.

A verdadeira frieza não está em Moscovo, está nos estúdios de televisão e nas capitais ocidentais que veem o sangue palestiniano como um preço aceitável a pagar.

Tita Alvarez 

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