(Rui Pereira, in Facebook, 18/04/2025, Revisão da Estátua)

Sobre o caso alemão, existe até uma literatura, chamar-lhe-ia situada entre a analítica e a expiação, virtualmente inabarcável sobre A Questão da Culpa acerca dos alemães e o nazismo, título seminal precisamente de uma dessas obras, da autoria de Karl Jaspers. Mas, poderíamos juntar-lhe a extensa e dorida investigação biográfica de Joachim Feist sobre Hitler ou, ainda, Nós, filhos de Eichmann: carta aberta a Klaus Eichmann, de Günther Anders, entre toda uma, como disse, inextinguível literatura de origem alemã – para não falar da de outras origens – sobre a questão da Alemanha e do nazismo.
O que cai nestas operações de imediatismo propagandístico feitas à custa do revisionismo histórico e da mentira ordinária, não é tanto o valor dos factos históricos, pois nada modificará o facto de os russos-soviéticos terem sido quem mais sangue entregou ao mundo para derrotar o nazismo (27 milhões de mortos – para os historiadores mais diletantes, no conforto ocidental e que nunca viram os seus povos metidos numa tragédia desta dimensão, tratar-se-á apenas de um detalhe negligenciável). O que cai, sim, e esse é o objetivo da operação, é a capacidade de pensar um mundo diferente não daquele que existiu, mas do que existe, em favor da redução dos possíveis do humano, ao existente inumano que marca a nossa experiência contemporânea do mundo.
O salariato propagandístico de governantes, académicos, agentes mediáticos e outros traficantes de irrealidades emerge daqui como um chico-espertismo perigosamente remunerador.
Que estamos, com exemplos destes, a ensinar às gerações presentes e futuras? Só um pensamento ausente é capaz de se ausentar desta questão. Porque se desabituou de pensar seja o que for com profundidade, ou mais banalmente porque troca o valor da dignidade pelos valores do estipêndio. Disto, em boa medida, terá sido o próprio nazismo feito.
Por mim tenciono celebrar os 80 anos do 9 de maio de 1945 mais até do que num gesto de homenagem àquele passado, enquanto um ato contra o cinismo deste presente.
Do blogue Estátua de Sal
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