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domingo, 19 de janeiro de 2025

O que aconteceu com o SNS é o modelo que o Chega, a IL, o PSD e o PS defendem:

Médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares a ganhar mal no SNS e no sector privado (em ambos só conseguem ganhar melhor se acumularem uma brutalidade de horas extraordinárias, que lhes coloca em causa a saúde e bem estar e vida pessoal), e depois uma elite sem ética que se alapa aos cargos de gestão de serviços e subcontratações, que garantem a ligação umbilical entre o público e o privado.
De caminho temos casos que teriam levado à queda de qualquer Governo, não de uma Ministra, grávidas sem assistência, bebés porventura mortos, e idosos e adultos sem INEM, sem assistência, largados nas urgências do público 20 horas ou nas do privado, sem dinheiro, deixados à porta da salinha de orçamentação. Este é o modelo da UE que legisla impedindo o aumento do salários (contas certas), mas normaliza a subcontratação ao privado - abrindo a porta, escancarada, da corrupção de quem quer gerir. Em geral gestores da área da saúde que odeiam ser médicos e enfermeiros e adoram mandar, formados em cursos de gestão da saúde, especializados em comunicação das tragédias como sucessos de "eficiência". No meio testa-se a IA com telefonemas e algoritmos para em breve despedir parte dos profissionais de saúde, esses sim que querem cuidar, tratar, salvar vidas.
A saúde não é um negócio. Não ser deve ser lucro - não tenhamos medo das palavras - na saúde, com excepções de pequenos consultórios, independentes. A saúde privada é imoral. E têm que ser feitas 1,2,3,4 manifestações - as que forem necessárias - e gigantescas, em defesa de um SNS que nos dê a todos um médico de família, uma urgência aberta, qualidade e carinho na doença. E os médicos e os enfermeiros quando fazem greves têm que se consequentes e fazê-las quer no público, quer no privado, se não são os furas greves das suas próprias greves, já que trabalham à tarde no privado para onde o Governo subcontrata o que não foi feito no público. E as greves têm que ser por salários, com exclusividade e por gestão democrática, porque sem essa gestão - democrática - haverá sempre um grupo de gestores profissionais, não escrutinados, mesmo que, licenciados em medicina ou enfermagem, cuja função é ganhar dinheiro, com a doença, a morte, a dor como consequência, não interessa, desde que ganhem dinheiro. É um sistema total em colapso. Não funciona.
Não há falta de médicos em Portugal, há mais do dobro do que havia em 1980 por 100 mil habitantes. Temos 560 por 100 mil, na Holanda são 380, na França 315. O que se passa em Portugal é falta de lutas consequentes, com força, que impeçam este cadáver que é o sector privado que vive morto, em cima dos nossos impostos, e uma classe de políticos profissionais que assumiu que os impostos são para remunerar a dívida pública (que é privada). Destruindo aliás não só a nossa vida e saúde mas a qualidade cientifica e prática clínica dos próprios médicos, porque no privado não há equipas, formação, acompanhamento de doentes, em média. Não há prazer no trabalho quando não se faz tudo o que se sabe e pode para salvar alguém.
Precisamos de centros de saúde com médicos de família para todos, com pediatria e ginecologia e meios de diganóstico. Urgências abertas. E hospitais de qualidade com gestão democrática, e salários muito dignos. Tivemos tudo isto, depois de abril, chegámos a ser o melhor 12ª SNS do mundo. Sabemos o que fazer. Só nos falta lutar.
Raquel Varela

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