Assuntos pessoais:

Interessam-me a mim e a quem partilhou e partilha comigo memórias e afetos. Haverá sempre, e com toda a razão, quem se interrogue: o que tenho eu a ver coma vida deste tipo? E com toda a razão. Mas já vi anunciados em faixas rebocadas de avião pelos céus mensagens mais disparatadas: O TONI canta em esta noite. Ou: Saldos de Arromba na Aldeia Nova. Feira de fumeiros com Zés Pereiras. Entrada Livre.

Eu hoje trago aqui duas fotos. Numa, a mais bonita, eu e a minha irmã Honorina, com 3 ou 4 anos, nos Açores. Somos quase gémeos, com 16 meses de diferença. Vivemos como gémeos, andámos sempre juntos, até hoje. Tenho outra irmã mais nova, Natália de quem gosto com igual intensidade, mas de forma diferente: era a mais nova, a que tinha de aprender. Mas é da Honorina que hoje quero falar. Andamos assim lado a lado há muitos anos. Eu piorei com a idade, ela melhorou. A Natália olhou sempre para nós com o ar de quem se interroga, olha estes aos segredos. E eu? E tu cá estás entre nós com todo o amor. Mas hoje quem faz anos é a loirinha.

Eu transformei-me rapidamente de menino das hóstias num rufia, como verão na outra foto. Tinha 12 anos, estava em "viagem de curso por Espanha". Aqui numa colónia ou asilo julgo que dirigida pela Guarda Nacional , a Benemérita. com dois internados que por lá ficaram. Eu raspei-me. a minha cara não é a de de quem está entre amigos. Mas de quem necessita de cúmplices para fugir. E assim fiz. A história consta de um livro, Geração D, passe a publicidade, para lembrar que também não me prenderam no 25 de Novembro de 1975. A liberdade tem.me dado saúde. Parabéns Mimi.

Daqui a bocado escrevo sobre o 25 de Novembro. O dia depois dos teus anos. Seria muito azar que coincidissem um dia de felicidade e um dia de tristeza, mas de resistência, também. A propósito, no 25 de Novembro escapei no carro do meu cunhado casado com a minha irmã Natália. Devo a minha liberdade a tantos... e sempre com cara de mau. É das minhas fotografias que mais gosto. Sou o do meio.

Carlos Matos Gomes