Todos achamos isto e aquilo sobre o desfecho das eleições americanas. Há análises para todos os gostos e vamos andar nisto alguns meses. Até porque o que se decide em Washington afecta a humanidade em bloco.
O que eu acho, e já achava antes – e quem comigo conversou e debateu o assunto ao longo dos últimos meses sabe que estive sempre convicto que Trump ganharia fácil a eleição – é que os Democratas e as suas elites se afastaram, há muito, das pessoas comuns.
Não necessariamente por causa do fenómeno woke, em todas as suas muitas dimensões, que há muito ultrapassaram a barreira do absurdo, mas porque os EUA, sendo a maior economia do mundo, são um país profundamente desigual.
E o mundo digital em que vivemos, com as suas vidas de sonho, os seus milionários instantâneos e os seus os seus getaways paradisíacos com corpos perfeitos, veio aprofundar a percepção dessa desigualdade obscena que o capitalismo dos oligarcas pariu.
Dir-me-ão que Trump tem consigo a fina flor dos zilionários. Dos grandes causadores do problema.
É verdade.
Mas não interessa.
O que interessa, para o americano comum, e para cada vez mais europeus, é que o centro e muita esquerda se perderam na intrincada rede de causas fracturantes e identitárias. E esqueceram-se do average Joe, que luta todos os dias para pôr comida na mesa e se está nas tintas para o extenso cardápio de identidades de género, para a farsa da transição energética, para a revolução tecnológica que só aprofunda a sua precariedade e para as guerras dos outros. Quer, como diz a música do Sérgio Godinho, a paz, o pão, a saúde e a habitação.
Os democratas, lá e cá, devem fazer uma escolha. Se querem preservar as instituições da democracia, governem e falem para o povo. Para a maioria que só quer uma vida melhor, menos desigual. Que não quer acabar com os ricos, mas que deve decidir se pretende continuar a ser governada pelo modelo económico predatório que está na origem deste e dos restantes problemas que ameaçam o nosso futuro. Os nórdicos já nos mostraram o caminho. Será assim tão difícil.
13/11/2024 by
Do blogue Aventar
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