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terça-feira, 20 de abril de 2021

Aventuras e desventuras do R:

(Amadeu Homem, 14/04/2021)

A Oposição virou-se, toda fula e colérica, para o governo e para o PR e disse: – Outro estado de emergência? Mas que pouca vergonha é esta? Atrevem-se a propor outro estado de emergência?

O governo meteu os olhos no chão; o PR tossicou e prometeu beijos. Foi o Costa que quebrou o enleio, declarando, muito tímido: – É o R, é a subida do R.

A Oposição franziu a testa e replicou:

– E quem criou o R senão vocês?

– Nós? – Interrogaram-se em uníssono o PR e o governo.

– Eu uso sempre máscara e até já deixei de beijocar – advertiu o PR.

– Eu deixei de ir à Índia e renunciei aos restaurantes – obtemperou o governo.

– Não queremos saber nada disso. Isso do R, e dos casos novos da pandemia, e dos internamentos, e dos cuidados intensivos, não é connosco. É tudo com os Senhores, que são incompetentes e não tomam as medidas mais corretas.

– Mas eu já não beijoco – obstou o PR.

– E eu já só como sandes trazidas pela Uber Eats – lamentou-se o Costa.

– Não queremos tomar conhecimento de nada disso. Ficam a saber que esta nossa permissividade acabará! Este é o último estado de emergência, ouviram bem? – Ganiram, em uníssono, o PCP e o BE e a Iniciativa Libérrima, e o Ventura Auschwitz e, mais baixo, o Canto-que-eu-Rio!

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– Mas… mas… mas… – disse o Costa, muito à rasca. Não fomos nós que fizemos festas clandestinas, e que nos juntámos na praia, e que fomos em magote fazer surf à Caparica, e que andámos a saltar de concelho em concelho, e que juntámos a família de quarenta pessoas nas almoçaradas de Páscoa, e que…

– Cale-se, tenha vergonha, incompetente, dissoluto – gritou o Canto-que eu-Rio.

– Monhé ! – ganiu o Auschwitz.

– Comunista, estalinista, amigo dos cubanos – uivou o Libérrimo.

– Eu juro que não voltei a oscular velhinhas e putos ranhosos – assegurou o PR.

– Calem-se ambos. E já! – Acrescentou a Catarina Deseufémia, muito hirta e nervosa.

Todos repetiram em coiro, digo, em coro:

– Este será último estado de emergência. Os portugueses têm o direito democrático de se infetarem em liberdade e com todas as garantias cívicas!

– Vou regressar a Goa – disse baixinho o Costa.

– Vou disputar o lugar do Marques Minorca – declarou quase inaudivelmente o nadador do Tejo.

Fez-se depois um denso silêncio, só quebrado pelo R, a subir pela escada, digo, pela escala acima.

Do blogue Estátua de Sal 

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