Como seria de esperar, as cabeças quadradas e empedernidas que vêem ideologia e ingerência em tudo, fazem o favor de trocar a USAID pelas novas directivas norte-americanas dimanadas pela actual administração. Se bem que a cooperação cultural e científica carregue o "soft power" de quem investe, nem tudo é política no sentido mais chão. O ensino da literatura, da língua, das artes, da História, da música, do teatro, do desporto e da medicina proporcionado pela cooperação sino-portuguesa no âmbito do Instituto Confúcio, com significativa representação em várias universidades portuguesas (Aveiro, Porto, Lisboa, Coimbra e Braga) não é investimento que vise espionagem, agitação e actividades hostis ao alinhamento e responsabilidades assumidas por Portugal no tablado internacional, tanto mais que a China os respeita e até os valoriza, na medida em que o nosso país é entendido por Pequim como um importante mediador nas relações entre a China e o Ocidente. Não esquecer que Portugal é o Estado europeu que mantém relações com a China há mais de meio milénio e que foi o último país ocidental a partilhar fronteiras políticas com a China. Ademais, sendo a China o maior investidor em todo o espaço da lusofonia e sendo o português a língua mais falada no hemisfério sul, é natural e necessário que no mundo que avança para uma nova realidade multipolar, tanto as relações bilaterais como as multilaterais - neste caso Portugal-China, CPLP-China, BRICS-Portugal - requeiram novos instrumentos e veículos de cooperação científica, cultural e política. Não o entender e em tudo lobrigar o «partido comunista da China» é um grave crime contra Portugal e contra Macau, posto avançado da presença portuguesa na Ásia.
Tendo a oportunidade de acompanhar e prestar modesta colaboração a algumas iniciativas do nosso Observatório da China, dele recebo com regularidade ecos da intensa e proveitosa actividade que os institutos Confúcio têm feito no domínio dos chamados estudos orientais, bem como do reconhecimento do sucesso que os professores, alunos e responsáveis têm obtido ao longo da última década, pelo que Portugal devia repelir com veemência quaisquer tentativas norte-americanas de ingerência no domínio das relações de privilégio entre Portugal e a China.
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