No Expresso de hoje um dos seus mais ardentes defensores, Miguel Monjardino, anuncia o fim do euroatlantismo dadas as intenções de Donald Trump de vir a jogar golfe numa Groenlândia sob a bandeira do Tio Sam, ou pôr em causa os governos europeus ainda não rendidos aos clarins das extremas-direitas contando para tal com a militância gananciosa de Elon Musk.
Nesse contexto o fim da Nato será apenas um detalhe na transformação geoestratégica, que mostrará o imperialismo norte-americano na sua verdadeira natureza, ou seja sem as luvas de pelica de um Obama, ou de um Biden, mesmo tendo sido eles servis provedores dos interesses do tal complexo industrial-militar que, sagazmente, Eisenhower denunciara.
Curiosa será a reação dos nossos atlantistas militantes perante o que se anuncia como uma possível demonstração da Lei de Murphy quando, enquanto detratores de Putin ou Xi Jinping, ficarem sem argumentos para aquilo que quiserem fazer quanto à Ucránia e aos estados bálticos por um lado, e a Taiwan por outro.
Limitar-se-ão a ladrar béu-béu e a abanar o rabinho a tudo quanto o Departamento de Estado de Trump lhes propuser, ou ganharão um pingo de vergonha e entenderão que, ao fim de tantos anos, têm sido meros peões de um imperialismo só interessado nos lucros dos seus oligarcas servindo-se de expressões sonantes - democracia, liberalismo, por exemplo - para melhor enganar aqueles que vêem como habitantes de uma velha Europa reduzida à indigência dos seus líderes.
Passada a oportunidade para ser a perna basilar de um tripé, que equilibrasse as outras duas - a norte-americana e a chinesa - a União Europeia tem a liderá-la o triunvirato constituído por António Costa e duas senhoras tontas, espelho dessa mediocridade, e que a deriva para a extrema-direita apenas torna mais patética. Porque, também eles idiotas úteis ao serviço de Musk e seus comparsas bilionários, os fascistas europeus são as ratazanas trazidas pelo barco com que os Nosferatus do nosso tempo aportam à Europa: perniciosas, em si mesmas, maior perigo virá de quem são mera ferramenta.
Estaremos condenados a um futuro em que salários e pensões sofrerão cortes para que os europeus respondam aos ditames de Washington e engrossem os orçamentos de Defesa para os 4% comprando assim muito mais material às tais fábricas de armamento norte-americano?
Seremos passivos compradores de recursos energéticos poluentes resultantes do drill, baby drill do Calígula instalado na Casa Branca?
Adotaremos idêntico conformismo perante a possibilidade de só termos satélites em órbita se para lá levados pelos foguetões de Elon Musk?
Duvido que os donos do poder nos EUA saibam o suficiente de História para descobrirem que nem os impérios mais fortes resistiram à reação dos bárbaros, nem os que prometiam durar mais de mil anos chegaram sequer à dúzia. Mas reconheçamos que, até dar-se o seu derrube, muitas vítimas sairão trucidadas pelas suas malfeitorias...
Sem comentários:
Enviar um comentário