Adorava que fosse Augusto Santos Silva a suceder aos 20 anos trágicos (15, descontando o primeiro mandato de Marcelo) que conspurcaram a Presidência da República por actos e omissões de duas das mais gradas figuras da direita. O contraste não poderia ser maior. Porém, ele não é um bom candidato. E isso mesmo admitiu ontem ao lançar António Vitorino, aproveitando para expor Seguro como o vácuo em expansão que é. Acontece que Vitorino é um bom candidato, pelas razões listadas, mas não é um candidato forte. Ele passou ao lado da luta pelo poder no PS e isso selou o seu destino como segunda figura, como funcionário. Não é líder.
Quanto a mulheres, especulando sem relação com a vontade das próprias que o mais certo é ser inexistente, Maria de Lurdes Rodrigues igualmente seria uma sucessora à altura da missão de voltar a dignificar e credibilizar a função presidencial. Contudo, ela é ainda mais fraca como candidata do que Santos Silva, por razões óbvias que não justificam gasto do teclado. Mariana Vieira da Silva idem quanto à capacidade presidencial, mas é nova demais e o currículo político também não está maduro. Francisca Van Dunem igualmente conseguiria restituir patriotismo e dignidade ao Palácio de Belém, mas não conseguiria ser eleita por causa do racismo e misoginia ocultos e calados. Marta Temido não tem ainda perfil presidencial, poderá nunca o vir a ter. Não vejo mais ninguém.
Pelo que vou avançar com um cidadão que nem sequer aparece nas sondagens: José Luís Carneiro. Tratava-se de uma figura para mim desconhecida quanto ao seu perfil até à recente campanha para secretário-geral do PS. Sabendo dele só o que aparecia na comunicação social, nada dele sabia. Era apenas mais um nome, um quadro do PS. A mesma experiência tive com o Pedro Silva Pereira, que para minha grande surpresa se revelou um talento excelente na política nacional. E ainda com Paulo Campos, pelo que mostrou de alta tarimba política sempre que enfrentou os caluniadores encartados a propósitos das PPP.
Carneiro teve um resultado muito acima das expectativas, ele que foi dado como um mero e triste figurante na procissão triunfal de Pedro Nuno Santos até ao trono. Aposto que tal se deveu a características que nestas eleições presidenciais poderiam ser decisivas. Recordemos o que está em jogo: temos a decadência do regime representada por Marques Mendes, temos um projecto conservador que tentará puxar o regime para um semipresidencialismo com laivos de sidonismo representado por Gouveia e Melo, e depois temos uma inanidade ambulante de nome Seguro que quer engolir o PS. Neste contexto, Carneiro seria o representante da visão semiparlamentar do regime, oferecendo todas as garantias de cumprir com sentido de Estado as suas responsabilidades presidenciais. Tendo 53 anos (um miúdo), o fenótipo adequa-se na perfeição a recepções a outros chefes de Estado e viagens ao estrangeiro. E porque é que ele ganharia as eleições? Porque é simpático. Quanto mais exposição tiver, mais gente gostará dele, mais razões se descobrirão para estabelecer laços afectivos com a sua personalidade.
Não tendo este pardieiro os meios para lançar uma vaga de fundo com o seu nome, aqui fica um salpico à superfície.
18 Janeiro 2025 às 19:25 por Valupi
Do blogue Aspirina B
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