"Cosmopolita, moderna, consumista, com o sobretudo hedonista bem realçado. No entanto, para entender a cidade não bastam as linhas superficiais do seu rosto, é necessário aprofundar-se no seu âmago, mergulhar nas escuras e frias águas do rio, o Tejo, conhecer o seu fado, os seus poetas: Camões, Pessoa, etc. Sentir todos os sentidos da sua alma.
Lisboa é uma cidade multifacetada, cruzada pelas as mais variadas línguas, raças e religiões desde tempos imemoriais. A cidade guerreira e orgulhosa. A cidade atlântica e patriótica. A história paira como uma sombra sobre a sua última versão, a sua nova cara, recentemente adoptada. Alfacinha!
A proximidade oceânica, desértica, pinta as suas paisagens a luz e cor, perfumadas pelo vento do levante, com sabor a seda e especiarias. O céu é de um azul intenso com a condescendência dos ventos ciclónicos. No inverno, por vezes, condensam-se pequenas nuvens e chove. O clima é terno, morno, ameno. O brilho reluzente-diamante sobre as águas do rio. As águas do próprio rio, azuis, verde-esmeralda.
No outono sente-se a aspereza do vento, frio e húmido. As casas de fado e destino enchem-se de saudade e tristeza. As folhas secas caiem das árvores sem vergonha, que, como prostitutas de bairro, se despem a troco de qualquer promessa.
O pecado e a santidade veneram-se com o mesmo grau de intensidade. É terra de santo: António. De sardinha, vinho e pasteis de Belém.
Lisboa é uma cidade que se ama ou odeia, que se conquista ou deixa conquistar.
Capital de reinos e impérios. De anseios e ideais: o quinto. Filha-mãe de Portugal.
Lembro exactamente... foi naquela tarde solarenga, em que o Estio nos abraçava calorosamente, debaixo de um céu cândido, imaculado, como se o vento suave que me lambia a cara agourasse algo de auspicioso.
O Tejo corria ao fundo, no seu vagar de mulher grávida, prestes a parir um oceano. O dia era azul, bebé, da cor do céu.
As esplanadas do Rossio encontravam-se a abarrotar de pessoas, empresários, intelectuais e artistas, que vinham aproveitar os últimos raios de sol, bebendo cafés e cerveja nacional."
CLÁUDIO CORDEIRO
[ Ponte 25 de Abril - Lisboa ]
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