(Tiago Franco, in Facebook, 21/12/2024, Revisão da Estátua)
Costuma dizer-se que não é boa ideia lutar com um porco na lama porque, a dada altura, percebemos que não só o porco está mais habituado como, detalhe importante, gosta de ali estar.
Montenegro escolheu lutar com o Chega no lamaçal em que o partido de André Ventura vive. E assumiu-o dizendo que não é preciso que uma operação policial tenha resultados (apreensões, etc) para que seja um sucesso. Basta que seja visível e tenha um efeito dissuasor.
Assim sendo, as forças policiais sujeitaram-se ao triste papel de espantalhos e foram para o Martim Moniz encostar imigrantes à parede. Com que acusação? O facto de não terem nascido em Portugal.
Dezenas de pessoas encostadas à parede, com as televisões a postos para que a “sensação de segurança” fosse restaurada. Felizmente um deles tinha um charrozito no bolso e um corta-unhas para dar algum colorido à cena.
Qualquer pessoa minimamente inteligente percebe esta operação de cosmética que consiste, essencialmente, em esvaziar a gritaria de André Ventura, tomando como dores nacionais as habituais bandeiras racistas e xenófobas do Chega.
Há no entanto um problema: Portugal não é composto por uma população cheia de intelectuais ou, vamos lá, de gente que perca tempo a ler noticias para lá dos cabeçalhos e, muito menos, a cruzar fontes. E muitos acreditam nos disparates que são ditos por personagens como, por exemplo, Rita Matias.
Na noite da operação, vociferava ela, (no canal News, julgo), que “se os imigrantes abrissem a porta não havia necessidade de os encostar à parede”. Alguém consegue acreditar neste tipo de disparares? Não conseguem perceber que esta mulher e restantes acéfalos daquela bancada passam o dia a debitar propaganda?
A história dos subsídios, de roubarem empregos, da criminalidade. Tudo desmentido por factos e números. Os imigrantes contribuem 7 vezes mais do que aquilo que recebem, pegam em empregos que português algum quer, a economia está dependente desta força de trabalho, a taxa de desemprego é baixa no nosso país (cerca de 6%) e não há qualquer dado estatístico que relacione a criminalidade com a imigração. Por fim, nós próprios somos um país de emigrantes desde que nos lembramos de ser gente.
Ainda assim, há milhares de pessoas que engolem esta propaganda diária, ignorando os reais problemas do país, como a queda do SNS, da escola pública, os baixos salários, a crise na habitação ou as redes de interesses controladas pela mesma elite corrupta há 50 anos.
Portanto, 50 nepaleses, indianos e paquistaneses encostados a uma parede, deixam-nos logo com aquele quentinho na barriga de estado policial e de boas conversas de café sob o tema “isto não é uma república das bananas”. Os problemas a sério ficam para as década seguintes, quando aqueles que agora fogem de Portugal, um país cada vez mais de Terceiro Mundo, voltarem com novas perspetivas e, quiçá, a tempo de fazer qualquer coisa.
É difícil, muito difícil, quando tudo o que temos para apresentar é uma casta de políticos profissionais que ao longo da vida não tiveram um emprego no mundo real mas que, ainda assim, se arrogam, entre constantes trocas de lugares num sistema fechado, de controlarem os destinos da nação durante décadas.
Enquanto isso, as mentes com algum raciocínio lógico vão abandonado o país em busca de democracias mais fortes e sociedades menos corruptas, onde a economia funcione em benefício de todos.
Por cá, vamos babando na CMTV com operações policiais de cosmética, um governo com preocupações de fascistas e gente, como um Relvas, um Frazão ou uma Rita Matias, no papel de influenciadores da opinião pública.
Quase 9 séculos para chegar a isto. Não nos podemos queixar do destino.
Do blogue Estátua de Sal
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