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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Para além:

De dizer que as leis portuguesas são demasiado permissivas e que querer proteger a liberdade de expressão pode ser "um grande problema" por causa da Rússia, a embaixadora da Ucrânia em Portugal, Maryna Mykhailenko, aponta o meu livro A Guerra a Leste como um exemplo de interferência russa, através de desinformação.
Maryna Mykhailenko
Depois da campanha de perseguição e assédio contra mim e contra a publicação do livro, com o apoio desavergonhado da Embaixada da Ucrânia, que envolveu uma tentativa de invasão de uma das apresentações, a representante do Estado ucraniano volta a mostrar a verdadeira face do regime liderado por Volodymyr Zelensky. O objectivo é que apenas se mostre um dos lados da guerra e tudo o que favoreça a imagem de Kiev, o que não lhes agrade é "propaganda russa".
O livro é uma expressão do meu trabalho como jornalista e de experiências pessoais da estadia de mais de 8 meses no Donbass. Eu não tento favorecer a Rússia. Tento mostrar o que vi e ouvi. Quando o embaixador russo criticou os insultos de Pedro Abrunhosa contra a Rússia num concerto, o governo português, e bem, não só condenou a reacção da Embaixada da Federação Russa, através de canais diplomáticos, como se mostrou solidário com o músico português. João Cravinho, então ministro dos Negócios Estrangeiros, afirmou "a liberdade de expressão, com particular ênfase no domínio cultural e artístico, como um valor inalienável em Portugal".
Bruno Carvalho
Num país plural, democrático e soberano, qualquer governo reagiria de igual forma se a Ucrânia fizesse a mesma coisa com um músico, escritor ou cineasta. Não parece ser o caso. Ao longo de quase três anos, tenho vivido situações que não são próprias de um Estado democrático. Fui atacado publicamente por um membro do governo anterior, vários jornalistas atacaram-me em matilha, houve revistas que, ilegalmente, não se dignaram a publicar o meu direito de resposta a artigos insidiosos, com o objectivo de denegrir a minha imagem. Houve membros da comunidade ucraniana que insinuaram que eu devia estar preso ou morto.
Em momento algum recebi a solidariedade do Sindicato dos Jornalistas ou qualquer outro tipo de reconhecimento ou apoio de instituições. Quando digo que o apoio de milhares de anónimos e amigos, onde também se incluem dignos jornalistas, militares, sindicalistas e artistas, tem sido fundamental nesta caminhada, não estou apenas a ser simpático. É a solidariedade dos que não se revêem na podridão que me faz querer continuar. Mostrar o que outros não querem mostrar, estar onde outros não querem estar, iluminar o que outros querem na escuridão.

(Bruno Amaral de Carvalho) 

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