Num documentário dedicado à obra, que coassinou com Maria Teresa Horta e Isabel Barreno, a escritora Maria Velho da Costa contestou que o tão glosado neoliberalismo tivesse algo de novo, porque mais não era do que a versão atualizada do capitalismo selvagem do século XIX.
Essa afirmação veio ontem à baila numa conversa com quem, num país europeu muito procurado pela emigração lusa, manifestava inquietações com a segurança do emprego num futuro a médio prazo tendo em conta o despedimento do vizinho e de um outro alto quadro da empresa do marido, ambos quinquagenários e com previsível dificuldade em voltarem a encontrar emprego compatível com a experiência e a qualidade de vida a que se tinham habituado.
Num e noutro caso não estavam em causa empresas em dificuldades mas tão-só a busca da otimização dos já significativos lucros substituindo quadros com elevados salários por outros, mais jovens, contratados por valores significativamente inferiores. O que levava a esta constatação imediata: quem exerce cargos executivos nessa empresas, ou se blinda com a ascensão ao nível da administração, onde pode ganhar estatuto de inexpugnável (e ainda assim!!!), ou confrontar-se-á, mais tarde ou mais cedo, com um beco sem saída em que a passagem à reforma ainda demorará e não surgirá quem o contrate para fazer aquilo em que se julgava quase imprescindível.
Não estão em causa sequer os empregos de quem está nos níveis hierárquicos mais baixos, que as leis do trabalho, dão como facilmente descartáveis à primeira oportunidade, mas os outros, aqueles que por serem “chefes”. “diretores” ou deterem qualquer outro título, que lhes iludia o ego, se veem, de um momento para o outro sem o protetor tapete debaixo dos pés.
Comprova-se que o capitalismo nem para a sua casta dirigente começa a ser solução tão falho do humanismo dito cristão com que, por tanto tempo, se quis viabilizar.
Com o regresso de Trump à Casa Branca é essa versão radical, que ganha ensejo de se ver sem rédeas. Mas, ensina a História, que ao dobrar da esquina, dá de caras com mais do que justificadas Revoluções. Semeia ventos, mas tem as tempestades à sua espera...
Publicada por jorge rocha
Do blogue Ventos Semeados
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