A crónica de hoje é suscitada pela COP29, a decorrer no Azerbaijão. Na busca de um título inspirei-me num livro do notável escritor sueco, Stig Dagerman (1923-1954): A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer (1952). Dagerman apontava para o paradoxo da condição humana - uma frágil finitude, vacilando num incomensurável oceano existencial. Pela minha parte, apenas procuro alertar para a facilidade com que abdicamos da prudência crítica, consolando-nos com narrativas confortáveis, mas inimigas de verdade.
Umas de maior importância que outras. Outrora assim acontecia. É por isso que gosto de as relatar para os mais novos saberem o que fizeram os seus antepassados. Conseguiram fazer de uma coutada, uma aldeia, depois uma vila e, hoje uma cidade, que em tempos primórdios se chamou Fredemundus. «(Frieden, Paz) (Munde, Protecção).» Mais tarde Freamunde. "Acarinhem-na. Ela vem dos pedregulhos e das lutas tribais, cansada do percurso e dos homens. Ela vem do tempo para vencer o Tempo."
Rádio Freamunde
https://radiofreamunde.pt/
domingo, 17 de novembro de 2024
A nossa necessidade de ilusão é insaciável:
Os EUA, país que ainda hoje se arvora em líder do mundo, afastaram-se de qualquer compromisso sério em maio de 1997. Ainda antes de ter sido aprovado na COP3 o Protocolo de Quioto, que indicava objetivos concretos aos países desenvolvidos (listados no Anexo 1 da Convenção), o Senado dos EUA - que é constitucionalmente decisivo para validar tratados - aprovou por unanimidade uma advertência a todos os presidentes dos EUA: o Senado, recusando as responsabilidades históricas dos EUA, não ratificaria nenhum tratado que excluísse a China e outros países emergentes.
Essa posição viola a própria Convenção, que numa primeira fase liberta de obrigações os países que se industrializaram tardiamente. Aliás, foi por causa desse bloqueio do Senado que o presidente Obama se revelou o principal arquiteto do Acordo de Paris (2015). Ao contrário do Protocolo de Quioto (vigente entre 2005 e 2012), o Acordo de Paris não tem obrigações, nem penalizações para os países. O Senado dos EUA considera-o como uma iniciativa inofensiva de Obama, que não compromete Washington, por isso nem sequer precisou de ir a votos.
Há outras ilusões associadas: entre Biden e Trump, a diferença é meramente discursiva. No seu mandato, Biden aprovou 10.700 autorizações de prospeção de petróleo, contra 9.892 de Trump.
No que respeita à UE, o grande desígnio já não é o pacto ecológico, mas o seu rearmamento maciço contra a Rússia. Bruxelas prepara-se para pagar os aviões americanos com uma realocação dos fundos de coesão do orçamento comum de 2021-2027. Há também planos para que 20% do orçamento a entrar em vigor depois de 2028 seja dedicado à esfera militar.
As COP estão a transformar-se num sórdido espetáculo de ilusionismo. Talvez já seja tarde para o futuro, mas estamos sempre a tempo da lucidez.
por Viriato Soromenho Marques
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