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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Saudades do Abril futuro:

«O que faltou dizer a Marcelo e a Santos Silva é que as ameaças ao tempo, às regras institucionais, à necessidade de uma “respiração pausada” ou ao pluralismo vêm em grande parte do Governo. O caso TAP, a impunidade dos poderosos e o estilo pasmaceiro e complacente de António Costa não justificam a histeria do Chega, que se estendeu a uma parte do PSD e à nova liderança da IL ou à imprensa — a histeria do Bloco é outra coisa. Mas se não responsabilizarmos o Governo pela degradação da política, pela erosão das instituições e pelo consequente fulgor do populismo, estaremos a fugir à realidade.»

Manuel Carvalho, 25 de Abril de 2023

Este fulano, então ainda director do Público, termina com o parágrafo acima mais um dos caudalosos editoriais sépticos despachados ao longo de 5 anos. Porquê ir buscar a sua prosa inane, na solenidade dos 50 anos do 25 de Abril, de que ninguém se lembra nos poucos que a leram, nem o próprio autor? Por causa da liberdade, essa forma de viver que nos humaniza infinitamente.

Passou um ano. O Governo socialista foi alvo de uma golpada judicial, o Presidente da República aproveitou-a para dissolver uma maioria absoluta no Parlamento, as eleições deram ao Chega uma vitória estrondosa em número de votos e de deputados, uma AD de fancaria foi à rasca para S. Bento mostrar a sua encardida incompetência, e o tal Presidente da República, que anda há dois anos a exibir-se como pessoa cognitivamente diminuída, acaba de pedir ajuda urgente do foro neurológico e psiquiátrico. Comparemos com a lista do valente Carvalho: o “caso TAP” (está só a falar do Galamba, vítima de um taralhouco e da exploração mediática e política que se seguiu), a “impunidade dos poderosos” (quais poderosos? qual impunidade? que tinha o Governo anterior a ver com isso?), o “estilo pasmaceiro e complacente de António Costa” (ou seja, a responsabilidade, ponderação e confiança de Costa como governante, a que se junta o seu exímio sentido de Estado). É isto que tem o topete de invocar como causas do “fulgor do populismo”. Não contente, ainda lava as mãos ao dizer que a “histeria do Chega” se estendeu à imprensa.

A “histeria do Chega” nasceu na imprensa, a partir de 2004. E teve no Público um dos órgãos mais “histéricos” na promoção do populismo de extrema-direita, logo em 2007, na sequência da OPA falhada que a Sonae lançou à Portugal Telecom. Um dia depois da votação na assembleia-geral da PT, literalmente, José Manuel Fernandes (o qual tinha interesses acionistas na operação da Sonae) iniciava uma campanha negra contra Sócrates, e contra o PS, que nunca mais terminou e a qual apontou aos pilares da República. Em 2009, o mesmo Zé Manel lançou a meias com Cavaco a Inventona de Belém. Em 2013, foram buscar o João Miguel Tavares ao Correio da Manhã, com a ostensiva intenção de lhe dar um palco supostamente mais credível para a sua actividade de caluniador profissional. Ainda em 2019, o bravíssimo Manuel Carvalho inventou isto — Citizen Karvalho — em que chafurda numa alucinada teoria da conspiração lançada pela direita após a crise internacional de 2008, quando os seus bancos começaram a cair. O Carvalho fez uma manchete em que trata Vítor Constâncio como mafioso do que seria o crime do século, mesmo do milénio, em Portugal e na Europa. O pânico celerado, pois não tinham quem fosse competitivo face a Sócrates, deu azo à utilização da Justiça, em conluio com a imprensa, para tentar destruir politicamente os socialistas num inaudito vale tudo, inclusive com recurso a incontáveis e normalizados crimes. O Carvalho vestiu essa camisola, nisso sendo apenas mais um no ecossistema da imprensa nacional que está toda, sem excepção, nas mãos das direitas. O milhão de votos no Chega não seria possível sem o efeito decadente e pestífero produzido pelos jornalistas portugueses com poder editorial, e seus apaniguados, há já duas décadas.

A democracia permite os ataques à democracia. A liberdade que começou com o 25 de Abril, portanto, nunca está plenamente realizada. É por isso mesmo que precisamos de a festejar. Para nos recordarmos do nosso futuro.

 POR VALUPI

Do blogue Aspirina B 

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