Alberto Barros, sócio gerente da fábrica e neto de Abílio Pacheco de Barros. Entrei para a fábrica em 1954 e sou neto de um dos fundadores da fábrica, do Abílio de Barros, marceneiro, que parece que esteve no Brasil. Meu pai adquiriu a cota do Banco Comercial (cota de 10 contos) e veio para cá como entalhador e sócio. No entanto, acabou como desenhador. Tinha o curso da Escola Infante D. Henrique. A cota que meu pai herdou de meu avô, hoje é minha, são 24 contos e quatrocentos. A minha função na fábrica é tirar orçamentos, controlar as cargas a entregar e desenhar, tal como o meu pai. Agora já não desenho, porque são feitos em computador segundo elementos e esquemas que nos dão. O problema das medidas das carteiras já vem de outros tempos. Não sei se foi o Estado a fornecê-las ou estudo feito por nós. Quando cá cheguei já se faziam as carteiras com estas medidas. Como a população está a crescer, agora já existem novas medidas, já não são estas. Quanto à data da criação da firma, penso que tenha sido em 1923, aliás é a data que em reuniões precisamos mais. Esta fábrica só precisava de matéria-prima para laborar. Aqui havia de tudo. A caldeira veio de Inglaterra, despachada por barco para Leixões; como não havia transportes, foram lá buscá-la com juntas de bois. Dizem que foi uma festa quando cá chegou. A fábrica teria 450/500 operários quando para cá vim. Arranjava-se aqui emprego com facilidade. Quando entrávamos, rapazes novos, os primeiros meses não se ganhava nada; depois passavam a ganhar 10 tostões. A aprendizagem fazia-se vendo os mestres trabalhar. Por vezes mandavam fazer umas brincadeiras, como caixas ou outros objectos simples e lentamente lá iam aprendendo. Havia aqueles, mais espertos, que aprendiam melhor. Outros tinham mais dificuldades. Até se dizia que aqui era uma escola de artes e ofícios. Praticamente aprendia-se aqui, mas depois como queriam ganhar mais dinheiro viravam-se para outras fábricas novas que começaram a surgir na altura. Muitas dessas fábricas já tinham sido montadas por empregados que aqui trabalharam. Na marcenaria, assim como nas outras divisões, havia várias secções, cada uma com um encarregado e seis homens. O encarregado, o mais sabedor, era o responsável pela conduta desses homens, pelo ensino e pelo cálculo do custo das peças em horas de trabalho. Só na marcenaria havia nove secções. Estes homens, autênticos mestres, estão a acabar. Seria muito importante haver escola de formação para mais tarde os substituir. Há mobiliário artístico que muito pouca gente sabe fazer. Só os antigos, com muita experiência, é que o sabem fazer. Nunca tivemos problemas com os trabalhadores, exceptuando no 25 de Abril, em que isto esteve um pouco tremido. Os fiscais vinham cá muitas vezes, sobretudo pelo pessoal menor. Aqui eram admitidos aos 14 anos, mas os pais queriam que eles viessem logo que saíssem da escola, aos 10/11. Mas havia sempre muitos, apesar de tudo. Quando vinham os fiscais fugiam para todo o lado.
Editado por: Manuel Pacheco
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