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terça-feira, 24 de maio de 2022

Neocromicon - os feitiços para ressuscitar antigas divindades:

Neocromicon é um grimório, uma coleção medieval de feitiços, rituais e encantamentos mágicos onde são descritos rituais para ressuscitar os mortos, contactar com entidades sobrenaturais, viajar pelas dimensões onde habitam esses seres, trazer de volta à Terra antigas divindades banidas e aprisionadas.

Os discursos do primeiro-ministro português, da presidente da Comissão Europeia, das três figuras que surgiram em mais um programa de propaganda da estratégia dos EUA para o seu confronto com a Rússia, fazem deles mágicos árabes como os descritos por Abdul Alhazred, um poeta louco originário do Iémen, autor de Neocromicon. Infelizmente os sermões e rezas dos políticos europeus não explicam se eles pretendem ressuscitar o monstro político (se comparado com as democracias liberais maioritárias até agora na União Europeia) que era e continua a ser o regime ucraniano, se propõem construir de raiz um novo regime baseado no Estado de democrático de Direito que a Europa tem desenvolvido desde a Revolução Francesa e foi buscar os seus fundamentos na cultura grega.

Os dirigentes da União Europeia têm duas opções: ressuscitar o iliberal monstro de corrupção que as intervenções externas (EUA) implantaram na Ucrânia e fazer de conta que nada se passou desde 2004 a Fevereiro de 2022, ou criar de raiz um regime higiénico a partir da base, com outras leis, com outra gente.

A dita “reconstrução” da Ucrânia assenta no embuste vendido pela propaganda ocidental de que a Ucrânia em 2004 era um Estado de direito democrático, com um poder político eleito de forma aceitável pela comunidade internacional, com um sistema judicial independente do poder político, com partidos da oposição, com forças armadas subordinadas ao poder político e a uma lei constitucional baseada na igualdade, em vez de milícias nazis, defensoras da supremacia racista e da ditadura por si imposta, ao serviço de oligarcas locais. A reconstrução ou ressurreição da Ucrânia deve esclarecer se esta vai continuar a ser um regime que aceita desempenhar o papel de agente provocador da Rússia respaldado nas promessas dos EUA e para servir os interesses estratégicos destes, para continuar a ser o regime que esteve na origem da sua destruição e desta guerra ou se vai ser outra coisa, que convinha esclarecer o que é antes de “reconstruir”. Algum político explicou o que quer “reconstruir” na Ucrânia?

Os dirigentes europeus, quando falam em “reconstruir” a Ucrânia, apenas pretendem a hibernação do monstro até à próxima oportunidade, ou têm uma outra qualquer ideia? Qual?

A UE deve pagar a reconstrução de uma base dos EUA na fronteira da Rússia sob a forma de um Estado racista e de ditadura, como o que está em vigor? A UE deve ressuscitar o monstro que anda a criar desde 2004? A UE deve realizar um batizado a Zelenski e mergulhá-lo nas águas da democracia, como fez o bispo Macedo da IURD a Bolsonaro, no rio Jordão? Vamos pagar esse espetáculo?

É a ressurreição de um monstro que os políticos europeus querem que paguemos? E, sendo assim, porque não aproveitar o mesmo batismo, as mesmas águas, batizar Putin e admitir a Rússia na UE, que até fornece energia para nos movermos e aquecermos e cereais para comermos?

Carlos Matos Gomes


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