Há 96 anos, o levantamento militar, de índole nacionalista e antiparlamentar, trazia já no bojo o fermento totalitário que começou na ditadura militar e acabou na tirania fascista, designada antes como Ditadura Nacional.
A PIDE foi a mais bárbara e criminosa das associações de malfeitores. Nos calabouços da famigerada polícia foram torturados inúmeros democratas que sofreram humilhações, agressões violentas e a morte na mais completa impunidade, com a fria complacência de Salazar e o silêncio cúmplice do cardeal Cerejeira.
Foi longo o tempo de opróbrio, de retrocesso civilizacional e de miséria. Entalados entre o mar e a ditadura espanhola, os portugueses sofreram a fome, o degredo, as prisões sem culpa formada e as demissões da função pública, por delito de opinião.
Portugal liderou a mortalidade infantil e a tuberculose na Europa, e o ensino passou de 5 anos obrigatórios, instituídos pela 1.ª República, para 4 e 3 anos, respetivamente, para rapazes e raparigas, deixando mais de 30% de analfabetos.
Às mulheres era vedada a carreira diplomática, a magistratura e o acesso às Forças Armadas. A própria administração de bens próprios era-lhes negada e a saída para o estrangeiro exigia autorização do marido em papel selado e com assinatura reconhecida. Os direitos pertenciam ao “chefe de família”, e, na realidade, homens e mulheres eram prisioneiros no próprio país, vítimas do atraso, da corrupção e do medo.
Portugal era um cárcere, às ordens de um biltre fascista, infestado de bufos e crápulas.
A opressão e a brutalidade da guerra colonial haviam de derrubar a ditadura, numa madrugada de Abril que cobriu Portugal de cravos.
Carlos Esperança
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