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domingo, 9 de maio de 2021

Notícias jurídicas – caso Zmar:

Que as pessoas em geral não compreendam as chamadas “tecnicalidades” das leis e das decisões judiciais, é coisa normal, que se aceita sem reservas (embora por vezes alguns mais afoitos se espalhem ao comprido nos seus comentários pouco preparados, fazendo uma figura que bem podiam ter evitado se perguntassem a quem soubesse).

Que jornalistas especializados no judiciário ou com acesso a gente especializada cometam os mesmos erros, é inaceitável.

Isto vem a propósito da recente decisão do STA (Supremo Tribunal Administrativo) sobre a providência cautelar proposta pelos interessados do Zmar.

Essa decisão chama-se despacho liminar e resume-se ao seguinte: o tribunal entende que a pretensão do requerente não é completamente estapafúrdia ou lunática e por isso não a indefere liminarmente – o indeferimento liminar é a sentença de morte do processo mal ele dá entrada em juízo.

Admitindo liminarmente a providência, o tribunal manda o processo seguir, determinando a citação do Réu ou requerido (neste caso o Estado) e assinalando-lhe um prazo para contestar o pedido inicial; pode, por vezes, em face de uma circunstância delicada ou perigosa (a que os juristas chamam o “periculum in mora”) ordenar ao requerido que se abstenha de praticar actos que possam ofender com gravidade o fim último que determinou a propositura da providência.

Foi isso simplesmente que aconteceu no caso do Zmar – o tribunal não tomou posição sobre a pretensão peticionada, coisa que só fará depois da eventual contestação do requerido e depois de produzidas todas as provas (documentais, testemunhais, periciais) que as partes queiram oferecer.

Assim, com base no conhecimento de tal decisão, é manifestamente desonesto noticiar que o tribunal deu razão aos requerentes ou tomou alguma posição favorável à providência – manifestamente desonesto porque não podemos compreender que jornalistas que produzam tal notícia o façam por mera ignorância; há por isso uma evidente vontade de enganar o leitor/telespectador levando-o a acreditar uma rotunda falsidade, coisa que aconteceu com o jornal Expresso e com uma estação de TV, salvo erro a TVI, que foi logo aproveitada por dirigentes da oposição de direita, exigindo a demissão do ministro por uma coisa que... não aconteceu.

Isto está a passar-se com muita frequência, levando-nos a acreditar que a decência e o rigor informativo são cada vez mais coisa do passado.

Longe vão os tempos do Público dirigido por Vicente Jorge Silva, apoiado de perto pelo meu amigo Francisco Teixeira da Mota, com um rigoroso Livro de Estilo que era escrupulosamente respeitado.

Francisco Bruto da Costa

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