António Barreto que passou os últimos anos a verberar contra a corrupção e todos os seus discípulos como o tráfico de influência, o clientelismo, o nepotismo, o favorecimento indevido… até à cunha, foi nas últimas semanas uma das poucas vozes na imprensa escrita a tecer loas a Carlos Costa. Quando terminou o mandato como Governador do BdP. E depois na Grande Entrevista na televisão pública teve oportunidade de desenvolver mais o tema com o amigo Vitor Gonçalves. Um direitola travestido de jornalista. Que a par com Sandra Felgueiras, lideram ambos o ranking de mandar a ética e a deontologia da profissão às malvas semana após semana na televisão de todos nós. Mais parciais era impossível.
E precisamente na semana em que a UE aprovou um fundo histórico para a retoma das economias no pós-pandemia e em que Portugal ficou a conhecer o seu envelope financeiro ou a bazuca como lhe chama o PM, resultante de um plano em que pela primeira vez na história a UE emitirá títulos conjuntos de dívida, maior frete era impossível. E foi nestas circunstâncias, para lá de aziado, que Vitor Gonçalves optou por chamar alguém do Governo para sei lá, discutir uma tradicional muito fraca percentagem de aproveitamento de fundos europeus em Portugal como se diz por aí. Quando na verdade até somos o país que executa mais fundos. Perdão. E foi nestas circunstâncias, para lá de aziado, que Vitor Gonçalves optou por fazer um frete a um amigo na luta contra o favorecimento de amigos (??). Precisamente um dos grandes assuntos da vida de António Barreto nos últimos largos anos. Para entre muitas outros temas neoliberais, como a pedinchice, falar sobretudo do ex-Governador do BdP. Que afinal também é um amigo pessoal de António Barreto. Portanto uma mesa de café mais entre amigos era impossível na televisão pública. Que também é para o que serve a Grande Entrevista. E ainda deu para promover o novo livro de António Barreto. Agora mais na área da investigação cor-de-rosa. Onde muito provavelmente aproveita para tratar os pobrezinhos e temas como a caridadezinha com o mesmo tom paternalista da esposa, Maria Filomena Mónica.
Mas como já adiantei, António Barreto começou logo por abordar o tema do ex-Governador com uma declaração de interesses, afinal António Barreto é amigo pessoal do ex-Governador. “Que foi muito mal tratado nos últimos anos em Portugal e não merecia porque afinal é um homem muito honrado e de certeza um dos melhores gestores da coisa pública que Portugal já conheceu. E que foi Governador numa época muito difícil para o BdP e por aí em diante.” Em primeiro lugar e se esquecermos por alguns momentos o frete do amigo Vitor Gonçalves e da RTP, fica sempre bem defender um amigo. Sobretudo quando esse amigo está no chão. E ainda mais depois da auditoria do TdC ao departamento de resoluções bancárias do BdP. Mas eu também nunca vi ninguém chamar ladrão a Carlos Costa. Quanto muito um lambe botas incompetente, alguém demasiado reverente, sem tomates. E que se tivesse um pingo de vergonha na cara nunca aceitaria partir para um 2º mandato depois do desastre do primeiro como manga-de-alpaca. Nomeadamente nos custos para o país das resoluções do Banif e do BES. Porque na verdade muito da época muito difícil para o BdP de que fala o Barreto tem responsabilidades do próprio ex-Governador. Sobretudo pelo que nunca fez. Também é verdade que Carlos Costa refugiou-se sempre na falta de legislação que António Barreto também abordou e que precisou aliás de ser aprovada, para remover Ricardo Salgado da presidência do BES. Como se um simples telefonema entre Homens, com tudo o que o ex-Governador já sabia, não produzisse os mesmos resultados. Sobretudo se levarmos em conta outra informação adicional que António Barreto também confirmou ao amigo Vitor Gonçalves. Que afinal o Governador sempre esteve a par de muitas das ilegalidades. Ainda ninguém tinha percebido.
Sejamos claros, Carlos Costa podia e devia ter afastado a família Espírito Santo do BES, inclusive muito a tempo de ainda salvar um banco tão importante para a economia portuguesa. Não o fez porque nunca teve tomates para isso. Que já teve de sobra para cometer outro crime, como a passagem de informação confidencial, que o próprio Cavaco fez questão de confirmar ao vivo. Mas o verdadeiro assunto do post não é Carlos Costa mas António Barreto. Do qual só se pode extrair que afinal Sócrates – o principal tema que tem ocupado a cabeça do Barreto nos últimos anos – que à primeira vista até soube escolher muito bem os amigos a nível financeiro, nunca teve a mesma habilidade para escolher os amigos certos na principal área da vida política. E como tal ainda se paga muito caro em Portugal… Como acabou de o comprovar agora António Barreto na RTP. Ou a vida diária da casta dos Antónios Barretos que não admite cá misturas com chicos espertos. Isto claro depois dos laivos mais à esquerda da mocidade onde começou logo por boicotar a Reforma Agrária e já como Ministro ainda tentou reformar a nossa agricultura com os bons resultados que também se conhecem. Quem diria que um grande investigador da vida portuguesa – não confundir com a Catarina Portas – inclusive com uma passagem pela prestigiadíssima Fundação do Pingo Doce e mais um ícone português contra qualquer tipo de cunha afinal foi à RTP para tentar lavar a imagem de um amigo do peito?! No lugar do livro do próprio recomendava-lhe para as férias a recente auditoria do TdC à Autoridade de Resolução de Bancos do BdP.
Do blogue Aspirina B
POR ASPIRINAS
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