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domingo, 26 de julho de 2020

Haja vontade de dançar o tango:


Como não ando aqui para enganar ninguém, defendo há muito a proposta de Pedro Nuno Santos para que as esquerdas consigam conjugar-se num acordo duradouro pelo qual assegurem a transformação do país sem os constrangimentos de direitas, mesmo daquela que, na melhor das boas vontades. António Costa conotou com o Velho do Restelo. Importa, por isso, que a vontade seja comungada pelo Partido Socialista, pelo Bloco de Esquerda e pela CDU, todos eles capazes de se dissociarem dos cálculos rasteirinhos, inibidores da porssecução da convergência conhecida na anterior legislatura.
Importa que o PS não se fie na sua autossuficiência, mas que o Bloco, o PCP e o PEV não andem a arranjar sucessivos alibis para conotarem o governo com a trincheira contrária. E lamento que o grande negociador do acordo de 2015 esteja agora acantonado num Ministério onde tem feito excelente trabalho, mas onde se o sabe excluído dessa criação de sinergias à esquerda para que o sabemos tão talhado.
Ontem, no debate sobre o Estado da Nação, António Costa elencou os motivos porque se justifica a renovação da convergência com a demais esquerda parlamentar: todos comungam da necessidade de refazer a capacidade produtiva, de valorizar os recursos nacionais, de fortalecer os serviços públicos, de reforçar o investimento estatal, de combater a precariedade nos direitos ao trabalho e à habitação e da luta contra as desigualdades.
Com as direitas nenhum desses pressupostos se verifica, nem mesmo com esse caduco PSD, que nem sequer apoia a produção do hidrogénio verde para o qual o país tem condições extremamente favoráveis para transformar num dos seus mais bem sucedidos clusters. Soaram a ridículo as alusões de Rui Rio sobre um pretenso negócio da China, quando temos bem presente quem estava no (des)governo, quando a EDP e a REN foram entregues de mão-beijada ao Estado em causa.
É claro que o PS ainda contém alguns militantes extremamente velhos na mente, que não na idade, como Sérgio Sousa Pinto, que continua a usufruir de exagerada atenção dos media. Numa entrevista ao «Público» ele dá conta de inesperada lucidez quando confessa: “Eu acho que não mudei. O mundo mudou, eu se calhar não soube mudar com ele”. Assim se explica que tente fazer o tempo voltar para trás uma boa dezena de anos, quando retoma a ideia de se considerar Francisco Assis como potencial sucessor de António Costa à frente do PS. Se o ridículo matasse, a formulação de tão singular proposta, seria fatal para quem, em tempos, pareceu ter ideias refrescantes na Juventude Socialista, mas depressa perdeu prazo de validade...
Do blogue Ventos Semeados
Publicada por jorge rocha

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