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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Figuras típicas de Freamunde, Rosa "Corcunda":

A minha meninice e juventude foram passadas no lugar da Bouça, Freamunde. Ali, aprendi muitas coisas, as quais ainda preservo. Derivado a esse facto e o do lugar da Bouça ser um pouco isolado, ia para outros, para conviver com outros rapazes, pois no da Bouça só existiam dois: eu e Maximino “Careca”.
Nessa altura, brincar com raparigas, era-se logo apelidado: rapaz/menina e de menina/rapaz. Eram os adjectivos usados. Assim, por vezes, deslocava-me para o lugar de Miraldo, com a finalidade de brincar, jogar a bola, e outros brinquedos da altura, tinha como companheiros, o Zeca da “Matilde”, Mário “Medonho” e o seu irmão Zé. Nesses intervalos íamos espiar a RosaCorcunda”.
Esta figura típica já nos deixou, vai numas dezenas de anos. Era de uma família de fartos recursos, tinham uma indústria de teares, tendo a Rosa passado por várias dificuldades devido aos seus problemas de foro psiquiátrico. Vivia sozinha. Não sei se foi abandonada pela família ou se já não a tinha.
Era uma mulher alta e esguia. A sua altura ainda se notava mais derivado a usar uma saia até aos pés. Sempre de lenço pela cabeça, este, cobria-lhe as partes laterais da cara, o que não deixava ver se era bonita ou feia. A sua pele escura, da parte que dava para ver da sua cara, via-se que era bastante, e só assim é que se podia julgar, pois, o resto do corpo andava escondido pelo tal lenço da cabeça, pelo casaco que geralmente usava, o dito saiote e os pés, porque geralmente andava descalça. O resto andava coberto. Fosse de Inverno ou Verão. O que dava para nós crianças temer quando passávamos por ela.
Como disse, vivia no lugar de Miraldo, hoje rua de Miraldo, o seu trajecto para ir para o centro de Freamunde, era pelo lugar da Bouça. Sempre de passo largo e com pressa, não sei se por nos temer, pois havia crianças que lhe atiravam pedras.
Nos dias de feira de Freamunde, dias trezes e vinte e sete, era visita assídua. Os feirantes temiam-na. Era dada a surripiar qualquer artigo de pequeno porte. Temiam-na, mas não se constava que tivesse feito mal a alguém, além de pequenos furtos. 
Ninguém sabia a sua idade. Vivia sozinha e era dada a poucas falas. Pela fisionomia dava para vermos que não era nenhuma criança – como se usa dizer – mas, não posso afiançar ao certo, derivado aos seus trajos e aspecto físico.
Morreu num dia qualquer. Como foram quaisquer os dias da sua existência. Só que ao contrário da vida foi acompanhada para a sua última morada por alguns acompanhantes. É o que nos sobra na morte! Não nos deixam ir sozinhos.   
Vou voltar a outras figuras.

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