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domingo, 17 de agosto de 2025

A luta entre o velho e o novo:


Em 1932, Walter Benjamin chegou a Ibiza em busca de refúgio. Fugia da Berlim sombria, onde a crise económica e o avanço do nazismo anunciavam tempos de catástrofe. Naquela ilha, longe do turbilhão alemão, Benjamin refletiu sobre a luta entre o antigo e o moderno, entre o capitalismo decadente e o socialismo ainda frágil, mas portador de uma promessa de futuro. A sua análise, enraizada no materialismo histórico, via naquele embate não apenas uma disputa económica, mas uma guerra de temporalidades: o passado que se agarra ao poder e o futuro que insiste em nascer, mesmo sob os escombros da crise.

Quase um século depois, Portugal (e o mundo) vive um conflito semelhante. O capitalismo global, envelhecido e disfuncional, recusa-se a morrer, financiando extremas-direitas que prometem restaurar uma ordem que já não existe — ou que só existiu para uns poucos. O espectro do fascismo reaparece, não como novidade, mas como último recurso de um sistema que vê as suas bases a desmoronarem-se. A habitação inacessível, a saúde privatizada, a educação precarizada e o emprego inseguro são sintomas de uma crise que não é apenas económica, mas civilizacional.

Benjamin alertou para o perigo de uma modernidade que, em vez de emancipar, reproduz as mesmas opressões sob novas roupagens. Hoje, assistimos a uma falsa modernidade: a dos governantes que fazem festas enquanto o país arde, a dos demagogos que vendem soluções autoritárias para problemas que eles próprios aprofundaram. O "novo" que eles oferecem não passa do velho disfarçado — mais violência, mais desigualdade, mais desespero.

Mas se o passado insiste em persistir, onde está o verdadeiro novo? Para Benjamin, a esperança estava nos oprimidos que, ao tomarem consciência da sua condição, poderiam romper o continuum da história. Em Portugal, essa força só pode vir dos jovens — não dos conformados, mas daqueles que, como os seus avós em 1974, perceberem que a liberdade não se conquista com promessas vazias ou com a brutalidade fascista. Quando entenderem que a solução não está nem nos que os asfixiam com falsos liberalismos nem nos que lhes prometem ordem à custa da democracia, talvez então o novo possa emergir.

O socialismo — não como dogma, mas como projeto de justiça e dignidade — continua a ser a única alternativa capaz de responder às crises do presente. Benjamin sabia que a história não é linear: há avanços e recuos, mas a luta nunca cessa. Se o velho mundo insiste em arrastar-nos para o abismo, caberá às novas gerações empurrá-lo, de vez, para as catacumbas da História. Para que, como diria Benjamin, os "amanhãs que cantem" deixem de ser uma utopia e se tornem, finalmente, uma possibilidade tangível.

O futuro não está garantido — terá de ser conquistado. 

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