Chegado de cumprir o serviço militar em Angola o meu pensamento
deparava-se com a minha nova situação. Estive uns dias de férias, não tinha
decidido se ia trabalhar para a mesma empresa. Um dia o meu pai disse-me se
queria ir para a que ele trabalhava que um dos administradores lhe disse para
me fazer o convite. Resolvi aceitar. Acima de tudo era uma empresa que já
conhecia, foi lá, que dei os primeiros passos da minha vida profissional.
Tempos bons. Eram os patrões que procuravam os empregados. Hoje são os Centros
de Formação Profissional a mandar uma carta para lá se apresentarem - dizem que
não há fome que não traga fartura - não vejo luz ao fundo do túnel para
resolver tal situação. A máquina revolucionou tudo. Tínhamo-nos que fazer à
vida, não havia subsídios para nada, se é que a palavra existisse, ou seja,
existir, existia, não era tão pronunciada. Hoje tudo pede subsídio, o pobre, o
rico, o empregado, o desempregado, o solteiro, o casado, o viúvo a viúva, o
idoso e o jovem.
Dos problemas que mais me preocupavam era enfrentar a vida. Não era
fácil. Pensava em casar, tinha a noção que devia ajudar os meus pais que nessa
altura bem precisavam. Em conversa com o meu pai ele disse-me se eu concordava
em trabalhar para a casa durante um ano depois ganhava para mim para comprar o
“enxoval”, mobília. Para se arranjar casa havia uma certa dificuldade e as
rendas um pouco caras para o nível de vida praticado nessa época.
25 de Abril
Assim, andei entre trabalhar, jogar futebol e divertimentos até que
chegou o 25 de Abril. Fiquei apreensivo! De política percebia pouco. Também não
tinha contribuído para a eleição dos deputados da União Nacional. No comício da
Oposição em 1973, que se efectuou no Salão dos Bombeiros Voluntários de
Lousada, ouvi comentários de alguns meus amigos que lá foram como meros
espectadores. Levaram umas coronhadas, tendo alguns partido a cabeça, mas no
dia das eleições lá foram dar o voto aos seus agressores. Nessa altura andavam
os senhores feudais, cá do burgo, de porta em porta a elucidar o voto na lista
da União Nacional. Deixavam uns boletins. O meu logo que os senhores feudais
foram embora entrou no fogão que a minha mãe tinha acendido para a confecção do
almoço.
A seguir ao 25 de Abril o tempo era confuso. Uma vez fui a casa da
minha irmã mais velha na Avenida Alvares Cabral no Porto e vi uma ocupação - de
uma casa que estava desocupada - pelo MRPP/BR, não achei certo. Mas que se
podia fazer?! Era o que estava na moda. Nesse tempo a minha terra era apelidada
de comunista. Por força de conversas e opção o meu voto lá ia parar.
Em Maio de 1975 casei. A minha esposa era empregada fabril, tinha um
bom vencimento, juntamente com o meu fazíamos face à vida. Fomos morar para uma
casa dum bairro do patrão da minha esposa. A renda era acessível. Em 1976
mudamos para uma casa dos meus sogros fomos pagar mil escudos por mês.
Os anos iam passando. A empresa onde trabalhava a maior parte das obras
era para o Estado. Começou a haver uma crise. Na altura pertencia à comissão de
trabalhadores e juntamente com um dos patrões chegamos a ter reuniões com as
PMEs, mas não se solucionava nada. Para se aguentar e como a empresa tinha
marcenaria e serralharia civil, uns recebiam no dia um, os outros recebiam no
dia quinze de cada mês. Com isto se foi fazendo face a vários dilemas.
A crise continuava e o dinheiro faltava. Foi feito um estudo pelos
empregados com melhores posses. Quando o dinheiro não chegava para pagar os
vencimentos esses recebiam mais tarde. Com isto resolvia-se o problema dos mais
necessitados. Há mais ou menos quatro anos a fábrica fechou. Lutou sempre com
problemas financeiros mas no seu fecho não ficou a dever um euro aos seus
empregados. Senti uma grande alegria quando soube - deixei de ali trabalhar em
Janeiro 1980. Tomei outro rumo. Essa alegria é derivada a que o seu sócio
gerente, Teodoro Pereira, por quem nutro uma grande simpatia e respeito se opor
sempre aos outros sócios que por vontade destes iam para a falência não se
importando com os empregados.continua
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