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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

SANÇÕES BUMERANGUE:

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rump acordou um dia, olhou para a Casa Branca e disse: “Já sei! Vou pôr taxas em tudo. Vai chover tarifas como ketchup num hot dog.” E assim foi: soja, aço, semicondutores, petróleo, até as cuecas baratas da China - tudo passou pelo martelo tarifário. Afinal, nada assusta mais o mundo do que um presidente com uma caneta e uma tarifa na mão.
Só que há um detalhe que o manual do populismo esqueceu de incluir: o bumerangue. Esse artefato ancestral que volta sempre, mesmo quando atirado com convicção.
Na Índia, os refinadores esfregavam as mãos: “Então, querem que deixemos de mandar gasóleo para a Europa? Ótimo! Menos complicações, mais crude russo baratinho para nós, mais combustível barato para a nossa indústria.” Já a China, com o seu ar paciente de jogador de Go, suspirava: “Se os EUA não querem comprar, vendemos aos nossos vizinhos, produzimos entre nós, e no fim eles que comprem o dobro, mas mais caro.”
Enquanto isso, na Europa, as refinarias tossiam como carros velhos: sem a válvula indiana, os europeus voltavam a disputar barris no mercado global como quem disputa o último croissant na pastelaria ao domingo. O gasóleo subia, a inflação espreitava, e os ministros das Finanças suavam em coletivas a dizer que “estava tudo sob controlo”.
Nos EUA, o efeito bumerangue chegava discreto mas certeiro: agricultores a verem soja apodrecer nos silos porque a China não queria, indústrias a pagar mais caro pelo alumínio porque o Canadá retaliou, e consumidores a reclamar da gasolina que subia mesmo num país cheio de petróleo. Trump, claro, dizia que era “um preço pequeno a pagar pela grandeza americana”, mas os eleitores começavam a perguntar: “Grandeza de quem, exatamente?”
O mundo, cansado, começava a rir. As sanções, pensadas como chicote, transformavam-se em comédia involuntária. A Rússia vendia, a Índia refinava, a China ajustava, e o Sul Global encontrava sempre uma brecha. O dólar, outrora incontornável, via surgir concorrentes tímidos mas persistentes. E os EUA, em vez de controlarem o tabuleiro, viam-se cada vez mais cercados pelas próprias peças.
No fim, a moral era simples: sanções são como bumerangues - é preciso muito treino para não acabar com um nó na testa.

João Gomes 

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