Para uma simples ida à farmácia, nos 100 metros que separam a minha casa do Camões, fui abordado por dois grupos de folgazões das campanhas eleitorais. Com uma bandeirinha que cansadamente se agita, uma voz maviosa e sorriso postiço, estes distribuidores de prospectos que ninguém lê atracam o transeunte sem grandes cerimónias para lhes impingir as respectivas boas-novas. A escola parece a mesma das Testemunhas de Jeová, sendo que estas, contudo, se dedicam à pesca das almas sem outro intuito que o de tentar salvar quem não quer ser salvo. São os partidos, uma versão actualizada das velhas inculcadeiras de criadas de servir e das célebres benzedeiras de que há mais de 150 anos falava o velho Luís Augusto Palmeirim na Galeria das Figuras Nacionais.
Os partidos são como as inculcadeiras, mulheres de meia idade que apresentavam porta a porta jovens candidatas a criadas domésticas e a quem ensinavam meia dúzia de frases que induziam em erro os futuros patrões. Para a inculcadeira, estas raparigas eram todas excelentes cozinheiras, dominavam com maestria as artes da economia doméstica e algumas até supostamente sabiam ler e escrever. Confiantes no inventário de predicados, os futuros patrões davam-lhes emprego, se bem que logo descobrissem que as pobres criadas nada sabiam do ofício. Um pouco como as listas com as caras, caretas e carantonhas destes volantes com os candidatos. Chegados ao Parlamento, descobre-se que, afinal, mal sabem falar, escrever e contar.
Os partidos são, também, como as benzedeiras, essas mulheres de virtude que faziam diagnóstico das maleitas alheias e prescreviam curas. As receitas dessas vendedoras de saúde eram assaz encantadoras: «mete-se dentro de uma panela de barro dois gatos pretos recém-nascidos, ainda de olhos fechados. Tapa-se em seguida a panela, unta-se com massa de trigo e mete-se dentro do forno até os gatos ficarem completamente torrados. Depois, são pisados em almofariz, tomando-se duas colheres deste pó que deve ser misturado com açúcar, uma vez em jejum e outra antes de dormir». As receitas mais modestas limitavam-se - para todos os males da bruxaria lisboeta - a infusões de alecrim, a mangerona e erva cidreira.
Assim entendo os partidos e a quadra que nos vai artanazar até ao dia 18 do próximo mês.
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