(Raquel Varela, in raquelcardeiravarela.wordpress.com, 23/02/2025, Revisão da Estátua)
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O militar Almirante Gouveia e Melo, na ânsia de ser Presidente de uma República democrática, escreve no jornal Expresso, fundado pelo PSD, uma carta ao país a dizer que é socialista, social-democrata e demoliberal (se for assinante do Expresso pode ver aqui).
Ficámos assim a saber que é Deus, está em todo o lado. Sequer vou escalpelizar o artigo todo, na parte séria, que nos coloca em risco – um tratado de um Bonaparte sem noção, que diz ele mesmo, ser um homem só e se oferece como justiceiro dos programas eleitorais (afirmando-se como o homem. que vai usar a dissolução Parlamentar).
Fico-me apenas por esta piada pronta, como se diz no Brasil, de dizer-se que não se faz política e se é de tudo e de todos, ou seja, do seu e do seu contrário.
Sendo socialista é a favor da expropriação da Banca e da construção de habitação pública?
Sendo social-democrata é a favor de uma Banca pública forte que dê crédito aos pequenos empresários e jovens para comprar casa?
Sendo demoliberal é a favor da especulação imobiliária que alimenta os acionistas bancários?
É que das três não pode ser, são incompatíveis, se de verdade falamos. Por isso, das duas, uma: ou o militar Almirante Gouveia e Melo é ignorante politicamente, ou sabe exatamente o que disse e mentiu, antes mesmo de chegar ao cargo.
Aguardamos explicações, que não nos tratem como se tivéssemos cinco anos ou fossemos recrutas imberbes dos projetos político-partidários que representa (de parte, sim, de parte e muito pequena da sociedade).
Pode e deve ser candidato. Eu lamento ver um militar a fazê-lo, sei o que representa, mas que o seja, não finja porém que é o candidato de todos: os partidos e as candidaturas representam interesses, não existe ninguém acima deles.
Este truque em ciência política chama-se bonapartismo, e foi amplamente estudado desde 1851, em França. Todos nós representamos uma parte da sociedade (partido, política, ideologia), ninguém representa, em sociedades profundamente desiguais e divididas, toda a gente.
E já tivemos disso na União Nacional – o Partido de Salazar que dizia que estava acima dos Partidos, por isso era União + Nacional -, ou antes com Sidónio ou antes com João Franco, vimos de longe, sabemos bem o que está ao virar da esquina. O Almirante não é Deus nem Messias.
Do blogue Estátua de Sal
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