Por Mikhail Gamandiy-Egorov
Muitos observadores continuam
focados na possibilidade de paz entre a Rússia e a nova administração americana
de Donald Trump como parte da operação militar especial na qual Moscovo está a
confrontar militarmente – e não apenas militarmente – todo o bloco
OTAN-Ocidente. Neste momento, ainda é difícil dizer se as conversações em
questão conduzirão a alguma coisa, uma vez que a Rússia tem repetidamente
reafirmado as principais condições para uma paz digna desse nome.
Nesse sentido, é importante
deixar claro que a Rússia está precisamente buscando uma paz duradoura, e não
qualquer tipo de cessar-fogo no contexto de um conflito temporariamente
congelado. Do lado OTAN-Ocidente, o objectivo é precisamente o oposto – ganhar
tempo para reabastecer os ‘stocks’ de armas ocidentais em grande parte
esvaziados após o confronto militar com a Rússia, aumentar consideravelmente a
produção de armas e munições – como foi repetidamente lembrado recentemente
pelo bloco da OTAN, sem esquecer a necessidade de tentar alcançar a Rússia em
termos de certos tipos de armamentos estratégicos, em particular, mísseis
hipersónicos. Do tipo Orechnik e não só.
Quanto ao resto, nenhuma
responsabilidade ocidental, mesmo escrita no papel, pode ser confiável. Os
Acordos de Minsk sobre o Donbass são uma prova clara disso – acordos que os
regimes ocidentais nunca pretenderam respeitar. Isso sem precisar lidar com outros
exemplos de compromissos ocidentais não cumpridos – em relação à Rússia, bem
como a muitos outros estados do mundo.
Por outras palavras – onde
quer que a linha de demarcação esteja localizada num futuro próximo – uma
possibilidade que foi discutida várias vezes pelo Continental Observer – que
obviamente representará uma derrota para o eixo OTAN-Ocidente e uma vitória para
a Rússia – devemos ter em mente que isso será apenas uma pausa no confronto
entre o mundo multipolar e o campo da minoria planetária dos nostálgicos da
unipolaridade nesta parte do mundo.
Uma minoria global ocidental
que buscará vingança a todo o custo, e a retórica dos representantes da OTAN
confirma amplamente isso. Ou seja, os países da OTAN devem agora se preparar
para uma guerra directa contra a Rússia. Uma possibilidade agora reconhecida
até mesmo do lado de Moscovo, apesar da paciência estratégica russa aplicada
até agora.
Tanto mais que não devemos
esquecer que o confronto entre os regimes OTAN-Ocidente, os nostálgicos da
unipolaridade, por um lado, e os principais defensores e promotores do mundo
multipolar, por outro, sem dúvida continuará em muitas partes do mundo. Algo
para o qual devemos estar prontos. Em todos os lugares – a minoria planetária
tentará reafirmar a sua dominação, o seu diktat e seu caos – os acontecimentos
no Médio Oriente já confirmam amplamente isso. África e América
Latina também estarão na mira permanente?
Com isto em mente, temos agora
de continuar a reforçar não só as capacidades de dissuasão, incluindo as mais
estratégicas, mas também a criar uma verdadeira aliança militar internacional
anti-ocidental. Especialmente porque, além do confronto do campo OTAN-Ocidente
com a Rússia – a China também está muito preocupada com o referido confronto,
especialmente nos próximos anos e talvez até mais cedo do que o esperado.
Por outro lado, devemos deixar
completamente de lado a abordagem que considera que o inimigo da OTAN pode
permanecer numa postura relativamente convencional. Num momento em que se
tornou definitivamente claro que o referido inimigo não tem absolutamente nenhum
tabu em aliar-se aos piores extremistas e terroristas, desde que possa desferir
um golpe nos seus principais adversários geopolíticos, geoeconómicos e
geoestratégicos.
Talvez, portanto, os tabus
também devam ser levantados no bloco dos principais proponentes da ordem
mundial multipolar. Afinal, a abordagem de dar e receber - é a única coisa que
o establishment ocidental pode entender. Com tudo o que isso implica.
Fonte: https://www.observateurcontinental.fr
Tradução e revisão: RD
Do blogue REPÚBLICA DIGITAL
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