«Este cidadão que aqui escreve não tem, nunca teve, nem nunca terá qualquer “complexo com a PIDE”, porque a combateu, porque a conheceu, e porque no dia 25 de Abril de manhã era um e de tarde era outro, entre outras coisas por ver os torcionários com medo a fugir pelos interstícios dos buracos onde estavam escondidos.
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A utilização sistemática da violação do segredo de justiça para os jornalistas “amigos”, ou para parecer que há crimes quando não há provas, ou para funcionar como punição sem julgamento, ou — tão mau como isso — a eternização das investigações, escutas telefónicas, violação de prazos e utilização da prisão como mecanismo intimidatório, sempre sem responsabilização e sem apresentar resultados, tudo isto é abuso, abuso de poder e suja uma instituição como o MP e impede que a luta contra a corrupção seja limpa, transparente e eficaz. Eficaz, sem abusos. É mais difícil? Não estou certo, dá é mais trabalho, exige mais competência e uma outra cultura de responsabilidade.»
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Este homem, que de facto acrescenta conhecimento valioso à cultura portuguesa através da sua faceta de historiador, é para mim o mais importante dos caluniadores profissionais em actividade. A sua importância resulta da capacidade para defender a cidade, as instituições da República, a Constituição, o bem-comum, a liberdade com o seu verbo. Como se pode aferir na citação acima. Os seus colegas na indústria onde enche o bolso não o fazem por terem alergia à decência. Porém, contudo, todavia, este é o mesmo homem que protagonizou, desvairado, tudo o que agora denuncia como práticas nefandas. Em 2009, tomado pela ilusão de ser ele quem iria levar Ferreira Leite a derrotar Sócrates nas legislativas desse ano, andou a espalhar publicamente calúnias gravíssimas que tinham nascido da violação do segredo de justiça e de autêntica espionagem política a um primeiro-ministro. Nessa altura, tentou que os eleitores, a dias de irem votar, acreditassem que havia crimes sem provas. Meses depois, fechou-se numa saleta da Assembleia da República para escutar as gravações e saiu de lá a dizer que eram “avassaladoras”, sem explicar porquê ou no quê. João Oliveira, deputado do PCP que fez o mesmo exercício de devassa, declarou que as escutas não registaram nada com relevância judicial ou política. Este episódio do Pacheco a babar-se de excitação ao chafurdar na intimidade de Sócrates e Vara estava ao serviço da exploração maximalista do Face Oculta em contexto de governação do PS com minoria, tendo sido alimento para uma comissão de inquérito parlamentar que decorria.
Donde, isto da PIDE é conforme, né? Se der jeito, bute sem hesitação. Pinta-se o alvo como monstro, fica justificada a violência. Dá para adormecer descansado. Mas o efeito mais dissoluto do Pacheco Pereira na sociedade — na comunidade — nem corresponde ao seu papel de agente pidesco. O pior vem do que acima está pespegado. O retrato de um Ministério Público onde se cometem crimes. Crimes. Crimes sistemáticos, nas suas palavras. Crimes com intenção e consequências políticas, para lá do efeito devastador que têm nas vidas das pessoas apanhadas pelo MP e entregues aos «jornalistas “amigos”» para serem torturadas e devoradas. Ora, que está a impedir o fulano que combateu a PIDE de ser coerente e consequente com as suas palavras? Por que razão o Pacheco não age de acordo com o seu pensamento, e não parte para novo combate contra o mesmo tipo de mal? Terá medo?
Infelizmente, a resposta mais provável leva-nos de volta a 2009: Sócrates. Se há político, e respectivo partido ao tempo da sua liderança e anos seguintes, que foi atingido por 90%, ou mais, dos crimes do MP é Sócrates. E o Pacheco preferia carregar lenha para o Inferno a mover uma palha na defesa de quem odeia apaixonadamente.
19 Dezembro 2024 às 9:24 por Valupi
Do blogue Aspirina B
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