Não é uma perceção, mas uma certeza: qualquer que fosse o objetivo da PSP com a operação G.I. Joe no Martim Moniz, saiu ao lado. Qualquer que fosse o intuito do Governo em mobilizar as forças de segurança como parte de uma estratégia de sinalização social ou intimidação pública, também saiu ao lado. Encostar, de forma aleatória, dezenas de pessoas (na sua esmagadora maioria imigrantes) à parede para uma revista em plena luz do dia não nos faz sentir mais seguros. Apenas mais desconfiados daqueles que dão as ordens. Usem eles farda ou fato e gravata.
O problema de agir com base em perceções é que o conceito é tão lato que dá para tudo, sobretudo para excessos. Mas de um Governo, e de um primeiro-ministro, espera-se que não atuem com a ligeireza de um pistoleiro do faroeste que impõe a ordem por via da coação preventiva. E da Polícia espera-se que investigue, atuando no quadro das suas competências legais e balizas cívicas. O modo como o faz não é um detalhe.
A verdade é que neste caso os fins não justificaram os meios. Meses a preparar uma operação que, no final, se traduziu na detenção de dois cidadãos portugueses, na apreensão de uma arma branca, um telemóvel furtado, sete bastões e 581 gramas de haxixe, entre outras miudezas. O problema não são as operações com resultados pífios. Porque essas são recorrentes. No Martim Moniz, a PSP não procurou fazer prevenção, quis só chamar a atenção, pervertendo o princípio do recato institucional (não confundir com moleza). A Polícia não pode deixar-se instrumentalizar por uma agenda política, seja ela governamental ou partidária, sob pena de acabar, ela própria, encostada à parede.
(Pedro Ivo Carvalho, no "JN")
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