(Por Andrea Zok, 17/12/2024, Trad. da Estátua)
Após o saque à Embaixada italiana em Damasco, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, Tajani, diz-nos que “tudo está sob controlo”.
A única omissão insignificante é que não está claro sob que controlo.
Por outro lado, se a Primeira-Ministra Giorgia Meloni ainda está a tentar “estabelecer a responsabilidade” por aqueles que dispararam contra as tropas italianas da Unifil no Líbano, é pelo menos igualmente plausível dizer que se a sua embaixada estiver a ser pilhada, “tudo está sob controlo”.
Em última análise, este é o problema da política contemporânea: as palavras já não valem o ar quente que produzem. As palavras são apenas gestos num ato que envia sinais aos empregadores desses atores-políticos. O seu conteúdo de verdade é zero. E todos sabem que o seu conteúdo de verdade é absolutamente zero.
Mas, ao mesmo tempo, há toda uma dança mediática realizada por mentirosos profissionais, ironicamente chamados de “jornalistas”, cuja principal tarefa é lubrificar as mentiras mais espinhosas para que ainda sejam engolidas.
Portanto, estamos no reino puro da mentira ilimitada, em que encontrar contradições, inconsistências, padrões duplos tornou-se um passatempo infrutífero, porque o que não é mentira é apenas uma mentira por acidente, como um relógio quebrado dá a hora exata duas vezes por dia.
O que ainda não é bem compreendido é que uma esfera pública onde só existem mentiras, manipulações ou verdades acidentais e ocasionais é uma esfera pública que não possui autoridade. Contudo, como todo o poder legitimado provém da autoridade, a esfera pública de hoje já não possui qualquer poder considerado legítimo.
Esta é basicamente a história simples do Ocidente contemporâneo:
1) Mentiras, inconsistências, padrões duplos, omissões seletivas, retórica distorcida e manipulação desenfreada reinam supremas no discurso público.
2) Portanto, o discurso público parece completamente desprovido de autoridade e, portanto, o poder que exerce carece de legitimidade.
3) Na ausência da possibilidade de exercício de um poder geralmente percebido como legítimo, resta apenas a possibilidade de exercê-lo de forma autoritária, coercitiva, envolvendo chantagem, opressão, fraude, que são sistematicamente contrárias às necessidades e desejos da maioria.
E, de acordo com o exposto, isso se chama “democracia”.
Do blogue Estátua de Sal
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