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segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Leitão adulto:


O meu avô tinha dois apelidos e um deles era Leitão. No Carnaval, havia sempre um anónimo que lhe ligava para casa, perguntando à pessoa que tinha a sorte ou o azar de atender:

– Estou? É de casa do senhor Leitão?

– É, sim.

– Podia dizer-me quando é que chega a porco?

E pronto, era uma diversão.

Não herdei o saboroso apelido do meu avô, fiquei-me por um Nabais que, felizmente, me tem valido alguns trocadilhos que divertem e confirmam a minha geral inabilidade.

O ministro António Leitão Amaro, em declarações recentes, insinuou que há acidentes ferroviários que se devem ao facto de haver maquinistas a conduzir alcoolizados.

Será injusto, mas o porco é um animal muitas vezes associado a falta de higiene e a falta de respeito – ora, o respeito é extremamente higiénico.

A afirmação do ministro desrespeita uma classe profissional inteira, ao mesmo tempo que desresponsabiliza o governo da obrigação de contribuir para a resolução dos acidentes ferroviários.

Já há uns anos, o tão católico Mota Soares espalhou lama sobre os beneficiários do rendimento mínimo – a generalização é a arma habitual dos porcos que refocilam na política como se fosse uma pocilga, se é que me são permitidas as metáforas.

O meu avô viveu mais de 80 anos e não cresceu além do apelido. Leitão Amaro já chegou à idade adulta.

18/11/2024 by 

Do blogue Aventar

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