O meu avô tinha dois apelidos e um deles era Leitão. No Carnaval, havia sempre um anónimo que lhe ligava para casa, perguntando à pessoa que tinha a sorte ou o azar de atender:
– Estou? É de casa do senhor Leitão?
– É, sim.
– Podia dizer-me quando é que chega a porco?
E pronto, era uma diversão.
Não herdei o saboroso apelido do meu avô, fiquei-me por um Nabais que, felizmente, me tem valido alguns trocadilhos que divertem e confirmam a minha geral inabilidade.
O ministro António Leitão Amaro, em declarações recentes, insinuou que há acidentes ferroviários que se devem ao facto de haver maquinistas a conduzir alcoolizados.
Será injusto, mas o porco é um animal muitas vezes associado a falta de higiene e a falta de respeito – ora, o respeito é extremamente higiénico.
A afirmação do ministro desrespeita uma classe profissional inteira, ao mesmo tempo que desresponsabiliza o governo da obrigação de contribuir para a resolução dos acidentes ferroviários.
Já há uns anos, o tão católico Mota Soares espalhou lama sobre os beneficiários do rendimento mínimo – a generalização é a arma habitual dos porcos que refocilam na política como se fosse uma pocilga, se é que me são permitidas as metáforas.
O meu avô viveu mais de 80 anos e não cresceu além do apelido. Leitão Amaro já chegou à idade adulta.
18/11/2024 by
Do blogue Aventar
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