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terça-feira, 15 de outubro de 2024

O nazismo geracional e o Diário de Anne Frank:

A geração nascida no pós Segunda Guerra, a dos babyboomers, cresceu e foi educada na associação do nazismo à Alemanha e à caraterização do nazismo como uma ideologia assente no racismo, na imposição de um grupo classificado como raça, a raça ariana, como superior e de uma outra raça, a dos judeus, como uma espécie infra-humana, que deveria ser reduzida a cinzas em campos de concentração e depois eliminada em massa.

A geração atual, a do neoliberalismo e da lei da selva, do sucesso assente na violência, dos meios justificarem os fins, está a ser confrontada com o nazismo israelita, que considera os palestinianos infra-humanos e os israelitas a raça eleita e superior. Esta geração não parece ter termo de comparação e desculpa a violência que lhe é servida nos ecrãs assumindo que os israelitas estão a defender os seus valores, como surge nas legendas.

Na Europa e na União Europeia, a geração dos netos dos que fundaram a Europa com base em valores antinazis, os netos da geração que leu o Diário de Anne Frank, estão agora a viver e a participar na ressurreição do nazismo enquanto ideologia e estão a ser condicionados pelos atuais meios de manipulação a aceitar essa ideologia como a “defesa da liberdade e da democracia e do mercado livre”, valores entendidos segundo o seu ponto de vista: sou superior, logo sujeito os outros, se necessário elimino-os. O neoliberalismo era, sempre foi, um produto do ovo do nazismo! Por detrás do espetáculo da liberdade de comportamentos, mas não tanta que não separe cultura branca (a da elite), de cultura afro e de cultura latina ou hispânica, como é visível nos prémios da indústria do infoentretainment da oligarquia americana) encontra-se o racismo das oligarquias designadas por WASP (White, Anglo-Saxon Protestant), um branco, protestante, cuja família tenha origem no noroeste da Europa e que passou a integrar a oligarquia judaica, Rothschild, Rockefeller, Morgan, Goldman entre outros que dominam o mercado financeiro mundial. O liberalismo nem é livre, nem igualitário.

Assentando o nazismo israelita e o nazismo alemão nos mesmos princípios ideológicos, a superioridade rácica ou étnica, ou até religiosa como razão, a justificação para ocupação de territórios e eliminação de povos, a perversidade do nazismo israelita tem a vantagem de ser patrocinada económica, militar e, no essencial, politica e ideologicamente pela superpotência Ocidental, enquanto que o nazismo alemão dispunha apenas das suas próprias forças e atuava por si e pelos seus interesses. O nazismo israelita beneficia do poder financeiro dos Estados Unidos, do seu aparelho militar industrial e da cobertura fornecida pela sua poderosa indústria de comunicação e manipulação da opinião pública. Fatores determinantes e que permitem todos os atrevimentos e provocações.

O nazismo alemão tinha uma doutrina expressa no Mein Kampf (A minha Luta), superioridade rácica, recuperação da antiga ideia nacionalista alemã do “Drang nach Osten”, a necessidade de ganhar o Lebensraum, o espaço vital, que vemos reproduzido nos nacionalistas israelitas na criação do Grande Israel, que inclui o Líbano e a Síria, e na estratégia do Grande Ocidente Global, leia-se dos Estados Unidos, do domínio do Médio Oriente.

Sendo a mesma a base ideológica no nazismo alemão e do nazismo israelita, a radical diferença entre ambos reside no tempo histórico em que eles se manifestam e na inversão de valores que a adoção do nazismo israelita representa na ideologia do Ocidente — no seu sistema de valores.

O neoliberalismo enquanto doutrina dominante no Ocidente justificou e impôs os fundamentos do nazismo como condição para a sua existência enquanto sistema dominante no mundo no século XXI, mas colocou-o em confronto com a emergência de antigas civilização durante séculos sujeitas ao domínio ocidental e que o contestam.

O Ocidente, como a Alemanha de Hitler, justifica-se pela necessidade de impor a sua supremacia através da conquista de territórios e da eliminação de povos para em seu lugar colocar o povo eleito — arianos num caso, judeus israelitas noutro — que servissem os interesses da sede do império, em Berlim, num caso, em Washington atualmente. O nazismo alemão tem, como qualquer fenómeno político, várias causas e várias explicações, mas todas elas vão convergir na necessidade de impor um poder para defender um interesse julgado vital.

No caso do nazismo alemão, além da crise do orgulho ofendido com a derrota na Grande Guerra e da crise económica provocada pelas reparações que resultaram dela, ou da luta contra a ameaça comunista, ele tem, na essência, por base o objetivo da recuperação do estatuto de grande potência mundial por parte da Alemanha, num tempo em que a Europa ainda era o centro do mundo e de esse objetivo apenas poder ser alcançado pela forma mais brutal que pudesse ser utilizada para o efeito. Por isso os alemães estiveram tão perto da construção da arma atómica, um conhecimento científico que os Estados Unidos aproveitariam em Hiroshima e Nagasáqui. Não herdaram apenas o saber técnico, mas também o objetivo que ele proporciona.

No caso do nazismo israelita, estamos a assistir e a participar na repetição dos mesmos princípios do nazismo alemão para imposição de um poder, o dos Estados Unidos, que seja incontestado. Porque são quem financia (paga), arma e, sabemos agora com a presença dos mais altos comandantes militares americanos em Israel, manda e comanda as operações de Israel no Médio Oriente, como já se sabia que era esse o papel da NATO na guerra na Ucrânia, onde vigora um poder de cariz nazi, apoiado pelos Estados Unidos.

Também é interessante verificar que, tal como no nazismo alemão, o nazismo israelita jamais refere que tipo de sociedade pretende impor nos territórios ocupados a não ser que ficam sob a lei da superioridade ariana ou judaica. Estados teocráticos, na sua essência, o que não os distingue do Irão, do Afeganistão ou da Arábia Saudita.

Jamais o Ocidente — os Estados Unidos — referem nos seus planos de guerra e de pós guerra de valores, de Liberdade, de Justiça e de Respeito pelos povos. Tal como o nazismo alemão jamais o fez. Também, tal como no nazismo alemão, o nazismo israelita impôs a mais férrea censura à contestação à sua política e, fundamentalmente, aos resultados desta. Fê-lo, como o nazismo alemão havia feito, eliminando intelectuais, jornalistas e repórteres e impondo regras leoninas sobre segredo de Estado, utilizando os onze princípios de propaganda de Goebbels, o ministro de Hitler.

Os cidadãos dos Ocidente Global passaram a ter direito apenas a uma verdade oficial, todos os que se manifestam contrários são classificados como traidores, marginais e, logo, banidos do rebanho e do espaço público.

A grande vitória do nazismo israelita é que ele provou que o nazismo pode ser apesentado com sucesso como uma ideologia e uma prática que os ocidentais, os europeus, quer os da geração dos babyboomers, quer a dos precários liberais da nova geração, tomam não só como aceitável moralmente, mas como o melhor lugar ideológico para obter sucesso, lugares de topo da administração pública e privada, títulos académicos, negócios e tudo dentro de uma embalagem que apregoa os grandes valores do Ocidente no pós Segunda Guerra, é certo que mais apregoados do que praticados, mas ainda assim invocados.

No pós Segunda guerra, a Europa Ocidental declarava-se Mundo Livre, patrocinadora da libertação de África, liberal nos costumes e nos mercados, acolhedora de emigrantes de mão de obra barata, mas implacável com os que colocassem em causa a ordem e a exclusividade da violência por parte do Estado, mantendo nos seus aparelhos de poder uma rede protofascista de desestabilização, a GLADIO, gerida pela NATO, aceitando as ditaduras portuguesa, espanhola e grega. Chegou o momento de a embalagem ir borda fora!

A normalização de Hitler e do Mein Kampf tem sido feita diante dos nossos olhos através da glorificação de Zelenski, o ilusionista escolhido pelos americanos para transformar os batalhões nazis em combatentes da liberdade e os antigos nazis em heróis, caso de Bandera e de apresentar Netanyahou como o Herodes que, segundo a Bíblia cristã, ordenou a matança dos inocentes para evitar o nascimento de um verdadeiro rei dos Judeus, que ameaçasse o poder romano.

A normalização de uma estratégia nazi está certificada nos documentos que definem a política dos Estados Unidos para o século XXI, entre eles os recentes National Security Strategy (NSS) e National Defence Strategy (NDS) publicados na segunda metade de 2022 pela administração Biden, que reafirmam a preeminência dos Estados Unidos na ordem mundial em termos militares e económicos e referem a continuidade dos esforços de Donald Trump para estabelecer regras que garantam os meios para as empresas americanas “vencerem na cena mundial”. O Irão é um grande produtor de petróleo e um grande exportador para a China, o inimigo principal dos Estados Unidos económica e militarmente.

Israel representa o papel de provocador de um conflito que permita aos Estados Unidos atacar a China e as suas empresas por via da dificuldade de abastecimento de energia. Os Estados Unidos estarão por detrás do ataque de Israel ao Irão, que utilizou como operações provocatórias e preparatórias o ataque a Gaza, a pretexto do Hamas, o ataque ao Líbano a pretexto do Hezbolah, o assassinato de lideres palestinianos no Irão para dar oportunidade a este ataque.

Imagens do nazismo alemão, tendo a adolescente Anne Frank como figura referencial, do tratamento dado às crianças fechadas no gueto de Varsóvia revelam a herança do nazismo através das práticas dos militares israelitas em Gaza.

Em termos de princípios e valores estamos perante o mesmo fenómeno, o nazismo. Também estamos perante os mesmos objetivos. O nazismo alemão tinha como objetivo a preeminência da Alemanha na cena mundial, cujo centro a Europa ainda representava nos anos vinte do século passado e é pela mesma preeminência, agora ao serviço de um outro patrocinador, e noutro tempo, que o nazismo israelita age para garantir a hegemonia dos Estados Unidos.

O próximo ato de afirmação de luta pela imposição da hegemonia dos Estados Unidos será o ataque ao Irão. Que ele seja desencadeado por um estado nazi caracteriza os valores essenciais pelos quais se rege o estado patrocinador que colocou duas esquadras e forneceu os mais modernos equipamentos de guerra ao serviço de Israel, o estado vassalo. E indicia os valores que vão ser os dominantes no Ocidente Global.

Não foi certamente para defender Israel dos ataques de grupos de guerrilha e resistência que são o Hamas e o Hezbolah que os Estados Unidos deslocaram duas esquadras, forneceram os mais modernos sistemas de armas e, por fim, colocaram em Israel, no comando da operação militar, generais de quatro estrelas do topo da hierarquia das Forças Armadas Americanas, como tem sido a narrativa passada pela comunicação social do Ocidente alargado.

Um êxito no ataque ao Irão será assumido como um êxito americano e um sopro vital para os Democratas, que se apresentarão como os “capitães América” contra os Republicanos; um fracasso ou uma meia vitória será imputada aos israelitas. O nazismo alemão utilizou até ao fim a estratégia de atribuir as vitórias a Hitler e as derrotas aos exércitos executantes no terreno. Os nazis israelitas tanto correm o risco de serem os bodes expiatórias de um mau resultado, como têm a possibilidade de reforçar a condição de elementos indispensáveis ao futuro dos Estados Unidos, com quem partilham os conceitos de conquista e gestão do poder.

Quem está já fora da mesa do jogo de xadrez é o esforçado Zelenski, porque a Ucrânia passou à condição de causa perdida e o Irão passou a ser o objetivo principal para chegar à China.

O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do Sol.

Eclesiastes

Carlos Matos Gomes

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