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segunda-feira, 27 de julho de 2020

Personagens de Freamunde:

Umas de maior relevo que outras. Mas todas na memória dos Freamundenses. Desta não custa escrever. João Manuel Monteiro Correia assim se chamou e irá continuar a ser chamado porque há personagens que só desaparecem fisicamente. Desde menino quando acompanhava minha mãe à Loja do “Venturinha” pertença do pai de João Correia, e que ele era caixeiro, naquele tempo assim era apelidado quem atendia e servia os fregueses. Aqui refiro fregueses como clientes e não fregueses por pertencer a uma freguesia.
Sempre que lá ia, era onde a minha mãe fazia toda a despesa. Naquele tempo comprava-se a fiado. Fiado era a forma como a maioria dos portugueses geriam as suas compras. Não havia dinheiro. Estou-me a referir à década de cinquenta, sessenta e por aí fora do século passado.
Como estava dizendo ali ia com a minha mãe. Morávamos bastante longe. Lugar da Bouça. Os meus pais quando casaram, passaram a viver com a avó do meu pai, no lugar do Alto da Feira, numa casa ou arrecadação pertença do Sr. Ernesto Taipa. Depois com a morte da minha visavó passaram a viver numa casa da Realista na Fonte dos Moleiros. Ali nasci.
Talvez por isso a Loja do Venturinha era onde a minha mãe fazia a despesa quinzenal. Despesa quinzenal que era a forma de coincidir com a féria ganha pelo meu pai. Recebia à quinzena. Assim de quinze em quinze dias a minha mãe ia pagar o que já se tinha consumido e trazer nova despesa que ia para o livro dos fiados.
Quando ali ia via o Joãozinho do Venturinha ao balcão a atender os seus fregueses. Parece que estou a olhar para ele. De lápis na orelha, manguitos a proteger os punhos e parte inferior da camisa ou casaco, naquela altura como criança que era não sabia que era para essa funcionalidade. Tratava-me com carinho e dava-me um rebuçado. Sempre de fala franca respeitava os fregueses com esmero.
    
A minha mãe até à sua morte nunca deixou de ali fazer as compras. Tinha um respeito e uma gratidão por gente tão boa como era a família Venturinha. Por isso também ali fiz compras. Quando estava para casar e como a vida continuava difícil comprei ali um jogo de louça, enxoval do casamento, a prestações que ainda o tenho guardado, vai em quarenta e seis anos.
Joãozinho do Venturinha foi sempre um Freamundense dos sete costados. Participou em quase todas as colectividades Freamundenses. Recordo que no edifício, parte de trás, onde estavam acomodadas as pipas de vinho e demais géneros alimentícios, aos Sábados, ali ser uma agremiação da Columbofilia de Freamunde. Era onde os sócios levavam os seus pombos para serem anilhados e inscritos nos concursos semanais. Senhor de um apurado sentido critico e de uma abnegação ímpar elevou o nome de Freamunde para a maior ribalta Freamundense.
Esteve juntamente com outros Freamundenses no reinício das Sebastianas, então festas da Vila, em mil novecentos e cinquenta e quatro, que durante dez anos se deixou de realizar por desavenças com o Bispo do Porto. Intitulava-as como festas profanas.
Freamunde muito deve a Joãozinho do Venturinha. Freamunde ficou mais pobre. Mas acredito que o seu nome vai continuar a perfilar nos anais de Freamunde.
É com esta singela homenagem que me curvo diante de tamanha personagem. 
Paz à sua alma.

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