Umas de maior relevo que outras.
Mas todas na memória dos Freamundenses. Desta não custa escrever. João Manuel Monteiro
Correia assim se chamou e irá continuar a ser chamado porque há personagens que
só desaparecem fisicamente. Desde menino quando acompanhava minha mãe à Loja do
“Venturinha” pertença do pai de João Correia, e que ele era caixeiro, naquele
tempo assim era apelidado quem atendia e servia os fregueses. Aqui refiro
fregueses como clientes e não fregueses por pertencer a uma freguesia.
Sempre que lá ia, era onde a
minha mãe fazia toda a despesa. Naquele tempo comprava-se a fiado. Fiado era a
forma como a maioria dos portugueses geriam as suas compras. Não havia dinheiro.
Estou-me a referir à década de cinquenta, sessenta e por aí fora do século
passado.
Como estava dizendo ali ia com a
minha mãe. Morávamos bastante longe. Lugar da Bouça. Os meus pais quando
casaram, passaram a viver com a avó do meu pai, no lugar do Alto da Feira, numa
casa ou arrecadação pertença do Sr. Ernesto Taipa. Depois com a morte da minha
visavó passaram a viver numa casa da Realista na Fonte dos Moleiros. Ali nasci.
Talvez por isso a Loja do Venturinha era onde
a minha mãe fazia a despesa quinzenal. Despesa quinzenal que era a forma de
coincidir com a féria ganha pelo meu pai. Recebia à quinzena. Assim de quinze
em quinze dias a minha mãe ia pagar o que já se tinha consumido e trazer nova
despesa que ia para o livro dos fiados.
Quando ali ia via o Joãozinho do Venturinha ao
balcão a atender os seus fregueses. Parece que estou a olhar para ele. De lápis
na orelha, manguitos a proteger os punhos e parte inferior da camisa ou casaco, naquela altura
como criança que era não sabia que era para essa funcionalidade. Tratava-me com
carinho e dava-me um rebuçado. Sempre de fala franca respeitava os fregueses
com esmero.
A minha mãe até à sua morte nunca
deixou de ali fazer as compras. Tinha um respeito e uma gratidão por gente tão
boa como era a família Venturinha. Por isso também ali fiz compras. Quando
estava para casar e como a vida continuava difícil comprei ali um jogo de
louça, enxoval do casamento, a prestações que ainda o tenho guardado, vai em
quarenta e seis anos.
Joãozinho do Venturinha foi
sempre um Freamundense dos sete costados. Participou em quase todas as
colectividades Freamundenses. Recordo que no edifício, parte de trás, onde
estavam acomodadas as pipas de vinho e demais géneros alimentícios, aos Sábados,
ali ser uma agremiação da Columbofilia de Freamunde. Era onde os sócios levavam
os seus pombos para serem anilhados e inscritos nos concursos semanais. Senhor
de um apurado sentido critico e de uma abnegação ímpar elevou o nome de
Freamunde para a maior ribalta Freamundense.
Esteve juntamente com outros
Freamundenses no reinício das Sebastianas, então festas da Vila, em mil
novecentos e cinquenta e quatro, que durante dez anos se deixou de realizar por
desavenças com o Bispo do Porto. Intitulava-as como festas profanas.
Freamunde muito deve a Joãozinho
do Venturinha. Freamunde ficou mais pobre. Mas acredito que o seu nome vai
continuar a perfilar nos anais de Freamunde.
É com esta singela homenagem que
me curvo diante de tamanha personagem.
Paz à sua alma.
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