Falar do S. C. Freamunde é falar da nossa essência. Quando há setenta e oito anos se lembraram de lhe dar vida nunca pensaram na grandeza que este clube vinha a ter. As grandes coisas fazem-se de pequenos nada. Em tudo pomos a "Alma Freamundense": Grito de Liberdade / Coração Aberto / Firmeza de Convicções / Simples e Solidária / Filosofia Espontânea / Paiol Aceso / Grande Alegria / Rico por Natureza / Orgulho do Passado / Confiança no Futuro / Braços Abertos / Garra / Carácter. É esta a Alma que faz de nós um povo singular.
Há muitos nomes a destacar que elevaram o nome de Freamunde, falo
destes três, ao fazê-lo, neles revêem-se todos os que amam este grande
clube.
Padre Castro
Armando Oliveira
António Filipe
Nos primórdios da década de trinta, e porque a necessidade aguçava o
engenho, qualquer espaço servia para o pontapé na bola de "trapos",
fosse na rua ou em terreno baldio. O Largo da Feira era quase sempre o palco
predilecto dos pequenos garotos que com frequência quebravam os vidros das
janelas das casas contíguas à Praça Pública. É curioso que ninguém ousava
reclamar os prejuízos causados pelas boladas, mas, por vezes, a vizinhança
torcia o nariz face ao incómodo provocado.
Ali se jogava de manhã à noite. Aos domingos, principalmente, depois da
missa, os aficionados cercavam o largo para apreciarem a habilidade da
pequenada a suar as estopinhas, de pingo no nariz, com as calças arregaçadas
até aos joelhos, a roupa totalmente colada ao corpo e as botas - quem as tinha
- a pedir remendos pois as "topadas" eram muitas e as árvores apenas
ajudavam a ensaiar a finta. As velhas bolas trapeiras ricocheteavam,
batiam nas paredes, nas portas da tasca das "Elviras", iam e
voltavam. Toda a miudagem chutava. De repente, a alegria do jogo.
Golo!...Golo!...Golo!...Abraçava-se a garotada, toda, com alegria. Cá fora
batia-se palmas. Até o Abade.
Do largo da Feira ao
Carvalhal
O Pioneirismo
Querendo premiar os dotes futebolísticos dos jovens desportistas e
aliciado pela emoção desse jogo, o carismático Padre Castro - figura
proeminente pela sua generosidade e inteligência ao serviço das instituições
locais, personalidade possuidora de enorme fluência e que tudo fazia, como na
vida, com raça, com imaginação, com sabedoria -, conhecedor que o futebol
atraía o operariado e a juventude, auxiliado pelo Dr. António Chaves, Armando
Oliveira, Alexandrino Cruz, Francisco Carneiro e outros, resolve dar voz ao seu
instinto cristão e fazer alguma coisa pelos filhos da comunidade freamundense,
tomando a seu cargo o plano organizativo para a constituição de um grupo de
futebol, pois nas redondezas já havia clubes similares.
O Padre Castro, que também paroquiou S. Paio Casais / Lousada e
leccionou como professor de matemática no seminário dos Carvalhos / Vila Nova
de Gaia, deixou-nos bem cedo mas viverá eternamente na saudade de todos e
enquanto existir o Clube a que ele votou a sua existência. Dos fundadores, os
entusiastas de então, não é possível ter a certeza de quantos e quais foram,
não só pelo tempo já decorrido, mas sobretudo pela ausência e displicência no
registo de acontecimentos que poderiam vir a tornar-se, em termos históricos,
de vital importância.
Foram, no entanto - e disso não nos resta a menor dúvida - pessoas que
amaram o Clube da maneira mais pura e sempre ligados de alma e coração ao seu
querido emblema, identificados apenas e só com a bandeira azul e branca.
Mas nem só de boas vontades e amizades o futuro da Agremiação poderia
estar alicerçado; por um lado, uma coisa era organizar treinos e jogos de
futebol, outra fomentar a actividade, com algumas condições de higiene, mesmo
em espaço alugado. Tarefa prioritária, portanto. A dois "palmos" de
distância do centro da povoação existia um terreno que dava na perfeição para
erguer um campo onde fosse possível praticar futebol.
O Nascimento de uma grande instituíção
Eis-nos por fim chegados ao momento histórico da fundação do Clube. 19
de Março de 1933. Por curiosidade, também dia de S. José, da aprovação em
plesbicito da Constituição Política da República Portuguesa do mesmo ano de
1933 e, igualmente, data comemorativa da fundação da Associação dos Socorros Mútuos
Freamundense. Ainda neste dia, no nosso País, iniciavam-se os preparativos para
as filmagens do primeiro sonoro " A canção de Lisboa", com António
Silva, Vasco Santana e Beatriz Costa como protagonistas.
A partir daqui seria um percurso enorme pejado de dificuldades, mas de
muitas glórias também. Surgiria então o primeiro "team" oficial do
Freamunde Sport Clube, denominado de "Onze Vermelhos", todos ou quase
todos operários da Fábrica Albino de Matos Pereiras e Barros Lda. (Fábrica
Grande), jovens atletas de enorme potencial.
É escusado dizer-se que nesses tempos os dirigentes - sobretudo os mais
habilitados ou habilidosos, os chamados símbolos vivos do Clube -
faziam de tudo: jogavam se preciso fosse, treinavam, eram funcionários,
massagistas, aguadeiros e mesmo árbitros de futebol. Tanto carregavam as bolas
e os sacos para os treinos como se sentavam no improvisado gabinete a
congeminar a estratégia organizativa do plano semanal. Duas das principais
referências, para além dos denominados Presidentes (em 1934, António Maria
Gomes Chaves Velho e nos anos seguintes, José António Nunes Chamusca) foram
Adolfo Gomes Pereira e Américo Ferreira Taipa. Estes nomes
"arrastaram" outros que a justiça obrigaria a incluir mas que,
lamentavelmente, teremos que omitir face aos poucos livros ou documentos que se
salvaram das "andanças" em que a Sede do Carvalhal se viu envolvida
há duas dezenas de anos atrás.
Feitas as necessárias diligências, as dificuldades foram inicialmente ultrapassadas com o arrendamento destas terras pertencentes ao Dr. António Corrêa Teixeira Vasconcelos Portocarrero por uma importância compatível com as possibilidades do Clube.
Feitas as necessárias diligências, as dificuldades foram inicialmente ultrapassadas com o arrendamento destas terras pertencentes ao Dr. António Corrêa Teixeira Vasconcelos Portocarrero por uma importância compatível com as possibilidades do Clube.
Depois, utilizando mão de obra voluntária - rostos invisíveis, anónimos
que trabalharam intensamente, fazendo uso dos seus instrumentos de ofício, pás,
alviões, picaretas, manejados com toda a eficiência e denodo - o rectângulo de
jogo ganhava contornos. Os trabalhos tomaram de início um ritmo acelerado, de
tal forma que, em pouco mais de seis meses, o campo foi dado como pronto.
Pelos documentos disponíveis, não terá havido futebol, ou melhor,
competições externas com outros clubes, antes de 1932. A primeira referência é
de Maio desse mesmo ano e relata-nos um encontro entre o Lagoense F. C. e o
Foot Ball C. Freamundense, saindo vencedor este último por um concludente 7-0.
De tralha aos ombros, botas a tiracolo, gorro ou chapéu na cabeça, fato
domingueiro - todos, portanto, bem encanados - lá iam os atletas, cantando e
rindo, indiferentes aos quilómetros, percorrendo a pé até povoações
circunvizinhas (Covas, Sobrosa, Lagoas, Paços "Rotunda"...) para
defrontarem os adversários em renhidos confrontos. Nestes tempos os
equipamentos - quando existiam - quase não tinham modelo nem cores bem
definidas.
António Filipe, sapateiro de profissão com pequeno aposento na Praça,
era um dos principais entusiastas, guardando rudimentares camisolas,
consertando ainda, de forma gratuita, as botas (?) existentes. Sem um organismo
tipo Associação, os grupos desafiavam-se, jogavam e depois vinha a
desforra.
Ninguém repudiava sacrifícios, corria-se por gosto. Não havia lugar
para guardarem a roupa, muito menos a existência de água quente para se
lavarem, como é lógico. Por isso recorriam aos poços existentes nas imediações
dos campos de jogos de onde alguns assistentes retiravam a água com um balde,
despejando-a depois pela cabeça abaixo dos heróicos pontapeadores do
couro.
Não fazia diferença o tamanho do espaço ou o comportamento do público.
Os jogos não contavam para nenhuma classificação, vivendo-se, por um só dia, as
vitórias ou as derrotas. Ganhar era apenas, e só, um prazer do espírito.
Em Março de 1933, disputou-se em Lousada um jogo de classe infantil. O
mesmo não chegaria a terminar porque um miúdo da equipa da casa sofreu fractura
de uma perna.
"O meu fraco é ser forte"
O fraco que possa ter
aos olhos de quem me veja,
é ser o que eu quero ser
não o que querem que eu seja.
No caminho, a cada instante
aos meus ouvidos baixinho,
não falta aqui quem me cante
pra eu mudar de caminho.
Teime lá o que teimar,
quem me tenta desviar
que não o vai conseguir.
Não tenham pena de mim
eu sinto-me bem assim,
Sei pra onde quero ir!...
Versos: Rodela
Em 19 de Março de 1933 era fundado o Freamunde Sport Clube. As cores
originais do equipamento do clube eram o vermelho e branco. Os primeiros
atletas do clube eram chamados de "Onze Vermelhos".
A primeira equipa do Freamunde
Em cima da esquerda para a direita: Adolfo Pereira, dirigente,
Adelino"Claudina", António"Bica", Joaquim Pinto,
Moreirinha, António"Careca", Neca"Couta",
Juca"Careca", Zé"Careca, Zé"Bica", Alberto"Botas,
Cândido Pinheiro, Arnaldo Pinheiro.
Inicialmente o emblema do clube era uma estrela com cinco vértices.
Época 1950/1951
Em cima da esquerda para a direita: Peixoto - Alberto "Mirra"
- Casimiro "Russo" - Zeca "Mirra" - Zé Viana - Manuel
Pinto.
Em baixo, pela mesma ordem: Adão Viana - João "Cherina" -
Quim "Bica" - João Taipa - José Maria "da Couta".
Da Revista "Freamunde é Coisa Boa"
O meu grupo é o
Freamunde,
E nenhum outro
confunde
No acertar na
«borracha»...
Rapazes até
consola
Ver o Taipa a dar na
bola
Quatro «balázios» de
«escacha»
E, se os outros, na
avançada,
Vão com a sua ferrada
De nos passar as
« palhetas»
O Alberto estende a
perna
E manda um chuto à
moderna,
Que até os deixa
«pernetas»...
Estribilho
Chuta o Manel,
Cabeceia o Zé Maria,
O Bica passa
ao Baptista,
E este limpa-os à
porfia...
Centra o Adão,
Entra o Taipa e...
Catapum...
Chuta forte e o povo
todo
Grita: Eh linda... e
foi mais um...
Bis
No azul da camisola
Está toda a alma da bola,
Que é preciso defender...
E, se ruim a coisa vedes,
Basta o Peixoto na redes,
P'ra não haver que temer...
O Zé Maria é um portão,
E o Zé Viana então
Leva tudo à cabeçada,
C'o Casimiro a «rasar»
E a avançada a acertar,
Todos levar a «seisada»...
Estribilho
Chuta o Manel
etc... etc... etc...
Bis
Em Novembro de 1935 é
extinta a denominada Liga Invicta e o Freamunde Sport Clube filia-se na
Associação de Futebol do Porto, preparando-se para entrar no Campeonato da
Promoção. Para poder jogar nesta liga o Sport Clube de Freamunde à AF Porto e
adoptou as cores de hoje ( camisola e meias azuis e calções brancos).
A partir dessa altura o azul passaria a ser a cor predominante do seu equipamento, tonalidades que até hoje persiste. Também muda o emblema do clube para a estrela de seis vértices, " sósia" da estrela de David.
A partir dessa altura o azul passaria a ser a cor predominante do seu equipamento, tonalidades que até hoje persiste. Também muda o emblema do clube para a estrela de seis vértices, " sósia" da estrela de David.
À época 1938/1939 era o Presidente da Agremiação Ernesto Gomes Taipa. No comando técnico estava António Aloísio Correia. Em 1939 rebentava a Segunda Guerra Mundial. O futebol em Freamunde, como em toda a Europa, atravessava uma grave crise. Portugal, que tinha optado pela neutralidade no conflito, nem por isso deixou de sentir os nefastos efeitos desse acontecimento devastador.
Findo o conflito, o futebol regressou à actividade normal até aos dias de hoje.
Datas Importantes:
1933 - Inauguração oficial do clube;
1935 - Conclusão da obra do Campo do Carvalhal, o primeiro estádio oficial de Sport Clube de Freamunde; o clube junta-se à AF Porto e ao Campeonato da Promoção;
1944 - São criados e aprovados os Estatutos do clube;
1945 - O clube passa a chamar-se Sport Clube de Freamunde (nome que perdura até hoje);
1949 - Faleceu o padre Castro, um dos maiores entusiasta do S. C. Freamunde e também o principal implantador de futebol Freamunde;
1990 - É inaugurado o Complexo Desportivo do Sport Clube de Freamunde;
2004 - Inauguração do segundo relvado do estádio, no aniversário do clube;
Sem comentários:
Enviar um comentário