Rádio Freamunde

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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Capitulo V


No dia dois de Abril de mil novecentos e oitenta e oito, o Sport Clube de Freamunde jogava com o Fafe no campo do Carvalhal. Após o jogo tínhamos que vedar todo o perímetro que comportava o campo - hoje é um conjunto de blocos habitacionais. Um mamarracho. Para pena nossa, pelo facto de ser uma recordação e o berço do Sport Clube Freamunde. Além de se vedar ainda tínhamos que montar o palanque onde iam actuar os Xutos. Não é como agora que há empresas que montam e desmontam esses palanques mediante o seu aluguer. Era a nossa força física e mental para resolver estas situações e tínhamos que pôr mãos à obra porque o dia três era o dia seguinte e muito havia para fazer e para nosso azar nesse dia estava a chuviscar.
Em Freamunde, a Páscoa, é celebrada em quase todas as casas com a ida do compasso - um grupo de leigos e um seminarista, com uma cruz, de porta em porta dá-la a beijar. Acontece que nesse dia para nós a Páscoa era outra, havia muito a fazer e tínhamos de receber um camião com a aparelhagem para ser montada pelos técnicos que acompanhavam os Xutos.
Quando fomos receber o dito camião deparamos com outra dificuldade. Dada a altura do camião, com a carga, para entrar nas portas de acesso ao campo não se conseguia, estas, eram mais baixas. Entre ter de o descarregar - ficava um pouco distante - e tentarmos afundar o solo, optou-se pelo seu afundamento, o que nos deu bastante trabalho e como já referi tudo saía do nosso esforço físico para evitar despesas.
O técnico de som depois de vistoriar o palanque disse que a sua dimensão não tinha as medidas e pôs certas reservas na realização do espectáculo. Avisamo-lo que não lhes pagávamos nada e ainda lhes pedíamos uma indemnização por despesas causadas. Assim, como a publicidade que tínhamos feito nas rádios locais e comunicação social, a usávamos, como contra publicidade a denegrir a sua imagem pelo incumprimento do dito concerto. Pela via do diálogo lá se conseguiu chegar a um acordo. A partir desse acordo o que se queria era a chegada da noite e rezar para não chover.
Chegada a hora todos tínhamos tarefas a desempenhar. A mim, - a pedido meu - fui para a bilheteira do lado norte, dado que não era simpatizante dos Xutos, pelo motivo de nestes espectáculos se movimentar droga e como cumpria um serviço profissional, Serviços Prisionais, guarda prisional, não estava para pactuar com isso. Mesmo assim quando chegava alguma pessoa à bilheteira a pedir bilhetes e usavam o calão: “ó meu passa para cá um bilhete por meia leca”. Meia leca eram quinhentos escudos. Não gostava deste vocabulário, mas por amor às festas Sebastianas lá ia aguentando.
Vendia bilhetes a um ritmo nunca por mim imaginado ao ponto de se esgotarem e termos de inventar outro tipo de bilhetes. O dinheiro em meu poder era muito comecei a temer um assalto à bilheteira. Pedi ao comandante da G.N.R. que ali estavam para manter a ordem, para pôr nas imediações da bilheteira um agente, além de ter comigo a pistola que me estava distribuída pelo Estado, derivado às minhas funções. Tudo decorreu bem, quando fomos fazer contas só a minha bilheteira tinha vendido bilhetes que perfazia a quantia de dois mil contos, a do lado Sul um pouco menos, fora os bilhetes que anteriormente tínhamos vendido.
Os Xutos e Pontapés deram um concerto que ainda hoje é recordado. Os cafés nas proximidades do concerto esgotaram tudo, tanto nos comes e bebes, como nas bebidas de garrafa e de lata. Não sobrou nada, além da fome e sede que muitos passaram. Para nós foram excepcionais a não ser aquele desentendimento entre o técnico de som. Durante muito tempo não se falava de outra coisa aqui pelas redondezas a não ser do concerto dos Xutos & PontapésMais tarde foram contratados por outra agremiação daqui de Freamunde mas, não tiveram o êxito e os ganhos de bilheteira como nós. A agremiação do Mártir S. Sebastião é forte e faz movimentar a população de Freamunde para esses e outros eventos.
Continua

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