Rádio Freamunde

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quinta-feira, 3 de julho de 2025

“Papagaios” políticos em curso nas direitas abrem os “bicos”:

(Alfredo Barroso, in Facebook, 01/07/2025, revisão da Estátua)

Habitação, Saúde, Educação, etc., estes não são os grandes problemas! “Papagaios” políticos em curso nas direitas abrem os “bicos” para proclamar em uníssono: os grandes problemas deste Portugal são a imigração, a nacionalidade e a defesa!

Eu, Alfredo Barroso, 80 anos, constato assustadíssimo, porque nasci em Roma (Itália), filho de um matemático português dos Montes de Alvor (Algarve) e de uma jovem italiana de Refrontollo (Treviso,) que, por isso, não poderei ser considerado «português de gema», segundo os tão exigentes e sábios critérios do CHEGA.

Repare-se, por exemplo, no ar sisudo do almirante Gouveia e Melo ao proclamar que a «imigração tornou-se um problema que não se pode esconder», não vá o genial general Isidro Morais Pereira aparecer como candidato do CHEGA a disputar-lhe a sucessão desse Marcelo PR que nos coube em sorte…

E que dirão os sisudíssimos candidatos a Belém do centro-direita Luís Marques Mendes ‘Mãozinhas’ – desastrado comentador da SIC e ilustre facilitador de negócios – e António José Seguro – outrora o Tó Zé do PS “qual é a pressa?” (de que ele já se esqueceu) e que agora até pretende aparecer como um «Born Again Christian»?

Só estes candidatos da extrema-direita, da vulgaríssima direita e de um centro-direita obnóxio, concentram em si uma enorme capacidade de circunspeção, ponderação (de ‘moderação’!), sisudez e gravidade bem estudadas e bem capazes de convencer os ‘tugas’ mais crédulos, como quando Marcelo PR lhes impingia a «política dos afetos» …

Uma nota a fechar: para grande humilhação do PS, o único candidato de facto muito bem preparado politicamente, com saber e experiência fora de dúvidas, é António Filipe, do PCP!

Campo d’Ourique, 1 de Julho de 2025

Do blogue Estátua de Sal

quarta-feira, 2 de julho de 2025

A Emigração, a Cultura e a Habitação:


A imigração enriquece as nossas sociedades, trazendo novas culturas e perspetivas. Contudo, a esquerda, no compromisso com a igualdade e a justiça social, enfrenta o desafio de integrar estas novas realidades sem ceder a simplificações perigosas. Respeitar as diversas culturas e religiões é fundamental, mas essa tolerância não pode ser ilimitada. Há princípios inalienáveis da nossa sociedade, como a igualdade de género e a proteção dos direitos humanos, que não podem ser comprometidos. Práticas como a poligamia ou a mutilação genital feminina são ilegais e inaceitáveis em Portugal e na Europa, e a sua não-aceitação não é xenofobia, mas a defesa intransigente da dignidade e dos direitos de todos.

Ao mesmo tempo, é crucial abordar a crise da habitação, um problema que a imigração, tal como o turismo de massa, exacerbou. O crescimento descontrolado dos alojamentos locais e a especulação imobiliária têm transformado um direito constitucional – o direito à habitação – num luxo inacessível para muitos. Vemos com preocupação a exploração de imigrantes em condições de habitação degradantes, com rendas exorbitantes por espaços diminutos e insalubres. Esta situação não é resultado da imigração em si, mas de um sistema que permite a exploração sem escrúpulos por parte de proprietários e intermediários, que acumulam lucros à custa da dignidade humana. A esquerda deve lutar por políticas públicas que garantam habitação digna e acessível para todos, regulando o mercado e combatendo a especulação.

É também imperativo reconhecer que os grandes beneficiários da imigração desregulada são, muitas vezes, os mesmos setores que financiam a extrema-direita. Estes grupos aproveitam-se da vulnerabilidade dos imigrantes para obterem mão-de-obra mais barata, sem direitos ou contratos de trabalho justos. Esta exploração capitalista da força de trabalho imigrante precariza não só os recém-chegados, mas também os trabalhadores portugueses, criando uma competição desleal e baixando os salários de todos. É paradoxal que muitos dos que foram forçados a emigrar para encontrar melhores condições de vida acabem por votar em partidos de extrema-direita nos seus países de acolhimento, sem perceber que representam precisamente os interesses dos patrões exploradores que os condenaram a essa mesma procura.

Cabe à esquerda articular uma visão que defenda a integração digna e humanitária dos imigrantes, garantindo-lhes direitos e condições de vida justas, ao mesmo tempo que combate as práticas culturais incompatíveis com os valores fundamentais dos direitos humanos. Deve também lutar contra a especulação imobiliária e a exploração laboral, independentemente da nacionalidade. A luta não é contra o imigrante, mas contra as estruturas de exploração e desigualdade que afetam a todos, sejam eles nascidos em Portugal ou recém-chegados.

Publicada por 

Do blogue Ventos Semeados  

O general Isidro Pereira e a candidatura a Presidente da República:

(Carlos Esperança, in Facebook, 01/07/2025)

O general tem sobre mim a vantagem de ter melhor ouvido. Eu precisaria de que me gritassem para ouvir, na rua, um pedido para me candidatar a PR, e tenho suficiente lucidez para me rir e pudor bastante para não me gabar do apoio do Chega.

Bem sei que a conduta dos dois últimos inquilinos de Belém degradou tanto o cargo que qualquer idiota pode julgar-se capaz de o ocupar. Mas Cavaco tinha enorme experiência política, só lhe faltava cultura, e Marcelo tinha ambas, só não resistiu à perversidade intrínseca e à sua matriz reacionária e conspirativa.

O sr. Isidro Pereira que currículo tem? Deslumbrou-se com o número de horas pagas na CNN, sem perceber que não é pelas análises que faz, mas pela propaganda que debita.

Quanto ao olho que pisca ao Chega não conte que o André se monte em tão fraca pileca, já lhe bastou apoiar o Almirante que, por estratégia, o desfeiteou. Imagine que todos os comentadores televisivos das guerras, próximos do Ventura, resolviam ser tão néscios! Tínhamos o Milhazes, o Botelho Moniz, o Rogeiro, o Poêjo Torres, a Diana Soller e a mais desejada por Israel e pelo chanceler alemão, Helena Ferro Gouveia, esse portento mitómano, vesga e insensível às atrocidades em Gaza!

Olhe que lhe sucede o mesmo que ao Marques Mendes, com outra envergadura política, sai de comentador a troco de nada. Mas o Mendes corre para o segundo lugar e não põe o País a rir.

Perante o general Isidro, até o Tino de Rãs parece uma figura de Estado. Nada indica que seja menos inteligente, e é seguramente melhor pessoa. Só lhe faltam estudos, e não é mais ignorante.

Mal imagina o sr. Isidro como é fácil saber quem está próximo do Chega, mesmo que o Chega não se chegue, basta estar atento à gramática. Na CNN, com a sua prosápia, não se atrevem a ensinar-lhe a conjugar o presente do conjuntivo do verbo chegar. Olhe que é dê e deem, não é deia e deiam, formas tão arcaicas como o oficial-general oriundo de Infantaria que merece o brevet de aviões pelo tempo que passa no ar na CNN.

Boa viagem para Belém, sr. Isidro, bem precisamos de quem nos faça rir.

Do blogue Estátua de Sal 

terça-feira, 1 de julho de 2025

Taxar os Ricos (um conto de fadas animado):

Introdução ao Direito, à Política e à Decência Básica – Época de exames:

Duas situações para testares a tua literacia nestas disciplinas.

I. Imaginemos que aparecia um procurador-geral da República a fazer as seguintes declarações públicas:

"É lamentável que Paulo Portas, Dias Loureiro, Duarte Lima, Cavaco Silva e Passos Coelho não tenham ainda conseguido provar a sua inocência. Tendo em conta o que sabemos no Ministério Público, e que é público, devíamos dar-lhes essa oportunidade."

Qual achas que seria o efeito social, político e judicial dessas afirmações? Acharias possível que toda a gente — dos políticos aos jornalistas, dos magistrados aos cidadãos — ficasse calada? E a haver uma qualquer reacção mediaticamente registada dentro da comunidade, qual deveria ser a posição do Conselho Superior do Ministério Público?

II. Imaginemos que aparecia um procurador-geral da República a fazer as seguintes declarações públicas:

"A sociedade pôde ouvir as escutas feitas a Sócrates, enchemos a pança de gozo, e ninguém tem dúvidas de que seja culpado de qualquer coisa. Para além disso, é uma pessoa profundamente antipática, merece sofrer para ver se perde aquela arrogância de mentiroso e corrupto. Proponho que se faça uma votação nacional onde se pergunta se deve ser preso ou absolvido. Se o povo votar pela sua prisão, depois um juiz só tem de decidir por quantos anos. Dessa forma conseguiremos finalmente encerrar este processo. Continuarmos a vê-lo usufruir dos seus direitos para se defender é que já não se aguenta."

Provavelmente, achas que jamais ouviríamos isso de um procurador-geral, sequer se um procurador genérico. Nem mesmo o mais fanático e rancoroso dos jornalistas ou caluniadores profissionais caça-socráticos se atreveria — em público! — a largar uma bojarda dessas. Terás toda a razão. Mas dá largas à fantasia neste exercício pedagógico. Num caso desses, qual deveria ser a consequência para o PGR face ao Estatuto do Ministério Público? Qual deveria ser a resposta política e constitucionalmente apropriada do sistema partidário, do Governo e do Presidente da República?

Estuda bem as questões supra e dá respostas devidamente alicerçadas nos conhecimentos que tens adquirido ao longo da vida e no estudo destas disciplinas. A pontuação será de 0 a 20.

 por Valupi

Do blogue Aspirina B

Notas soltas – ou do desplante à subserviência:

(Carlos Esperança, in Facebook, 29/06/2025)

A fotografia com Trump vai sair cara aos países da UE e só Pedro Sánchez reservou um espaço sanitário a separá-lo dos vassalos felizes na companhia do Imperador!

1– O PGR Amadeu Guerra, no caso Spinumviva, promete abrir inquérito a Montenegro “se houver fundamento”, mas não pode a investigação preventiva justificá-lo se a PJ só obtiver os documentos que ele quiser disponibilizar. A investigação preventiva parece criada para arquivar sem investigar. E o PGR já manifestou à Renascença “admiração” pelo PM!

2 – Soube-se que uma morte, durante a greve, foi atribuída a profissionais do INEM. A ministra da Saúde recusa tirar ilações e vai continuar no Governo até cumprir o desígnio de privatizar o SNS, tarefa inadiável dos partidos que votaram contra a sua criação.

3 – Portugal participou na agressão dos EUA ao Irão, através da Base das Lajes, e o PR disse que os EUA pediram autorização ao Governo para 12 aviões de combustível, para navios e aeronaves. Afinal, houve autorização ou, como disse o PM, foi de acordo com o tratado de cedência da Base?  E o que disseram os candidatos presidenciais?  Gouveia e Melo disse que não se pronunciava; Marques Mendes que era “uma não questão” e Seguro não se pronunciou. É desta gente que temos de escolher o PR!

4 – O PM foi a Haia comprometer-se a gastar 3,5% do PIB, até 2035, só em armamento. Não sei se isso se pode fazer, poder pode, porque fez, mas é legítimo tomar medidas tão gravosas para Portugal sem terem sido discutidas na campanha eleitoral? E ao almirante candidato a PR só ocorreu dizer que considera 5% do PIB “meta ambiciosa”!

5 – Pedro Sánchez, PM de Espanha, já tinha problemas com a direita, a extrema-direita, os bispos, a Opus Dei, a Justiça e a Nato. Agora afrontou Trump e os sionistas! Recusa sacrificar o Estado social ao armamentismo da UE, cada vez mais subserviente a Trump e ao seu capataz na Nato, Mark Rutte. E anunciou a defesa em Bruxelas da suspensão imediata pela Europa do Acordo de Associação com Israel “por lhe repugnar a violação constante de direitos humanos na Faixa de Gaza”.

A subserviência aos gazes imperiais..🙂

 6 – A ameaça de Trump a Espanha, se não cumprir a meta imposta de despesa militar, aliás, da competência exclusiva da UE, esbarrou no vergonhoso silêncio da UE e dos restantes países da Nato. Trump veio à Europa verificar a falta de coluna vertebral dos europeus, extasiar-se com as bajulações e oferecer um boné igual ao seu ao lacaio Mark Rutte. Todos, exceto Sánchez, o ouviram embevecidos a falar “do amor e paixão dos líderes europeus, da vontade de proteger as suas nações e do desejo de que os EUA os ajudem” (sic). Que nojo de gente, Imperador e vassalos!

7 – Montenegro gabou-se de Portugal ser um País fundador da NATO! Ignora que Salazar procedeu à assinatura e promete gastar, ainda neste ano, mais mil milhões de euros, sem precisar de Orçamento retificativo. Que grande herança lhe permite ser tão perdulário! O que assusta é o desejo de recorrer a crédito da UE que pode ser ocultado no OE, mas para pagar, empréstimo e juros, é um ónus para as futuras gerações! Quem o autorizou?

***

Nunca, como com Trump, foram tão desprezados os direitos humanos, desrespeitadas as alianças internacionais e ridicularizadas as organizações multilaterais, incluindo a ONU e a UE, até a própria Nato pelo PR dos EUA, país ao serviço de quem tem estado.

Do blogue Estátua de Sal 

sábado, 28 de junho de 2025

(Major-General Carlos Branco, in Jornal Económico, 27/06/2025)


Não deixa de ser insólito, no meio disto tudo, que os EUA tenham avançado rapidamente e do nada com o cessar-fogo, sem exigirem a celebração de qualquer acordo no âmbito nuclear.

Passados 12 dias de uma confrontação que envolveu inicialmente Israel e o Irão e, posteriormente, os EUA, chegou-se a um cessar-fogo, pelas sete horas de 24 de junho, com uma razoável probabilidade de se manter. Indicador disso é a normalização do quotidiano israelita, com a abertura do comércio e das escolas. É agora, pois, possível avaliar, com a informação já disponível, se os três objetivos políticos que Israel se propunha atingir foram alcançadas – destruição do programa nuclear, mudança do regime político e destruição da capacidade balística iraniana – e o que nos poderá reservar o futuro, decorrente desta primeira avaliação.

Tanto Israel como o Irão cantam vitória e assumem-se como vencedores. Uma leitura dos acontecimentos de maior granularidade leva-nos a outras conclusões. Podemos nesta altura afirmar, sem margem de erro, que apesar de terem sido operações taticamente brilhantes, tanto o ataque israelita como o americano foram estrategicamente inconsequentes.

Mesmo ainda sem dados para se avaliar com detalhe a gravidade dos danos, podemos afirmar que o programa nuclear iraniano foi afetado, mas não foi destruído. Contrariando as afirmações triunfalistas de Trump e de Netanyahu sobre o sucesso da operação, os serviços de inteligência dos EUA sugerem, numa avaliação preliminar, que os ataques não destruíram completamente as instalações nucleares iranianas. Parece que as infraestruturas críticas do ciclo do combustível nuclear não foram afetadas ou terão sofrido apenas danos menores. A confirmar isso, a ausência de sismos na região, provocados por explosões no subsolo. Neste sentido, alguma comunicação social hebraica veio dizer que “não foi Israel, mas os Estados Unidos, que atingiram o objetivo principal, atrasando o programa nuclear do Irão de 6 meses a 1 ano.”

No rescaldo das operações, parece que o regime dos aiatolas saiu reforçado, servindo a agressão para reunir a população em torno da sua liderança, mesmo aqueles que se lhe opunham ou lhe eram indiferentes. As mesquitas ficaram cheias como não se via há muito tempo. As minorias étnicas não se sublevaram. Falamos em particular das azeri e curda, esta última incentivada a fazê-lo pelo líder curdo iraquiano.

Confrontados com a impossibilidade de provocarem uma mudança do regime, Netanyahu e Trump vieram posteriormente dizer que isso não fazia parte do plano. Trump já não queria uma mudança de poder no Irão porque não desejava criar o “caos”. Por outro lado, o sistema balístico iraniano ficou longe de ter sido destruído.

Os EUA e Israel não pretendiam envolver-se numa guerra de atrito, que lhes iria ser desfavorável. Julgaram que o “choque e pavor” do ataque da primeira noite, ajoelharia o Irão e o levaria a sentar-se à mesa das negociações com os EUA, no dia 15 de junho, numa posição de extrema vulnerabilidade e pronto para assinar tudo o que lhe pusessem à frente.

Uma guerra prolongada daria vantagem ao Irão porque possui energia, matérias-primas, agricultura, etc., e também dimensão geográfica. Israel é um pequeno Estado de 20 mil quilómetros quadrados (mais pequeno que o Alentejo), enquanto o Irão tem cerca de 1 milhão e 650 mil. Em termos de área, Israel representa 1,2% do Irão.

Esta guerra veio provocar uma alteração qualitativa profunda no comportamento iraniano. Israel ficou a saber que futuros ataques ao Irão não ficarão sem resposta. As Forças de Defesa de Israel (FDI) destruíram a sua mística e perderam a reputação de invencibilidade que até aqui gozavam.

Apesar do seu poderoso sistema de intelligence, Israel subestimou a capacidade iraniana. Telavive julgou que o Irão estava mais fraco do que nunca a nível interno. Com base em acontecimentos anteriores, pensou que o Irão não iria responder, ou que o faria de um modo tímido, e que a guerra ia ser curta. O Irão iria ser, mais uma vez, humilhado.

Israel não só não conseguiu atingir os seus objetivos políticos como pagou caro a agressão ilegal ao Irão. Embora seja difícil ter uma noção exata dos danos causados pelo Irão, há factos indesmentíveis, como por exemplo, a destruição da capacidade portuária e aeroportuária israelita; a suspensão do comércio marítimo, as quebras generalizadas de energia elétrica, a economia devastada, etc. A Maersk suspendeu o trânsito pelo porto de Haifa, responsável por mais de 60% do comércio do país. As cidades israelitas arderam pela primeira vez. A isto junta-se a situação social no país causada pelas destruições causadas pelos mísseis iranianos.

Foi esta situação de debilidade, resultante dos ataques iranianos, que levou Telavive a pedir, mais uma vez, auxílio aos EUA. Desta vez, para negociar um cessar-fogo que terminasse com uma situação que se tinha tornado insustentável.

Os Estados Unidos

Embora não o reconheça publicamente, Israel está ciente das limitações da sua defesa aérea em deter os mísseis iranianos e da sua incapacidade em destruir o programa nuclear iraniano. O pedido de ajuda aos EUA visava envolvê-los diretamente no conflito, para fazerem aquilo que Telavive, por si só, não tinha possibilidade de realizar.

Se foram sempre claros os objetivos de Israel relativamente ao ataque ao Irão, o mesmo já não se pode dizer dos objetivos dos EUA. Descortinamos como possibilidade e em primeiro lugar, a do fim do programa nuclear iraniano, o que parece não ter corrido bem, apesar das declarações bombásticas de Trump e Netanyahu. Há rumores de que Washington teria informado Teerão antes dos ataques, o que complica ainda mais a análise, porque vem expor a falta de vontade dos EUA em defender o seu protetorado.

O ataque dos EUA às instalações nucleares iranianas foi seguido de ataques retaliatórios do Irão a várias instalações militares norte-americanas na região, em particular àquelas que se encontram sediadas no Catar, tendo sido as autoridades americanas previamente informadas. Teerão marcou, uma vez mais, a sua determinação em responder sempre que fosse atacado, ao mesmo tempo que evitou causar vítimas para não encurralar Trump e o empurrar para um maior envolvimento no conflito, algo que alegraria Netanyahu, mas em que Trump não estava nada interessado.

Com o ataque, Trump procurou agradar ao lobby israelita e aos setores belicistas do establishment político norte-americano, muitos instalados no partido republicano, mas, com a concretização do cessar-fogo a pedido de Telavive reconciliou-se com a sua base apoio. O seu discurso aparentemente errático, por vezes mal-entendido, refletiu a sua necessidade de satisfazer certos equilíbrios de poder internos.

Os ataques americanos às três instalações nucleares iranianas não só não impediram que Teerão desistisse do seu programa nuclear, como se poderão tornar num pretexto para Teerão se retirar do Tratado de Não Proliferação Nuclear (o que foi já declarado pelo seu ministro dos negócios estrangeiros), rever a fatwa de 2003 e obter capacidade nuclear militar.

A decapitação da estrutura superior das Forças Armadas e da Guarda Revolucionária provocada pelo insensato ataque israelita levou à ascensão dentro do regime da linha mais dura. Os militares vão ganhar mais poder e os gastos com a defesa aumentarão. Tudo isto poderia ter sido evitado, se tivesse sido levado por diante o que se encontrava na mesa de negociações entre os EUA e o Irão, antes do dia 13 de junho, isto é, a venda do urânio enriquecido a 60% a uma potência nuclear.

Não deixa de ser insólito, no meio disto tudo, que os EUA tenham avançado rapidamente e do nada com o cessar-fogo, sem exigirem a celebração de qualquer acordo no âmbito nuclear. Não terá sido apenas porque os israelitas tinham esgotado a sua defesa aérea, nos últimos dias incapaz de intercetar mais de cerca de 50% dos mísseis iranianos, passando estes a atingir as infraestruturas energéticas israelitas, uma vulnerabilidade bem conhecida de Israel, mas porque os danos passaram a ser incomportáveis. Só assim se explica a urgência de Israel em querer parar com os ataques.

O cessar-fogo não vai conduzir a conversações de paz e, por conseguinte, ao fim da guerra. Como afirmou o chefe do Estado-Maior israelita Eyal Zamir “a guerra não acabou — uma nova fase está para vir”, não sem dizer que Gaza continuará a ser a prioridade imediata. Poderão continuar as negociações entre os EUA e o Irão, mas não com Israel, que procurará manter com o Irão um modelo de relações semelhante ao que mantém com o Líbano. Não existirá um acordo de paz formal, mas um entendimento tácito de contenção e uma resposta militar cirúrgica, quando necessário.

Poderemos, pois, encontrar-nos perante uma alteração do modo como Israel fará a guerra no futuro. Em vez de optar por manter um confronto de atrito prolongado, em múltiplas frentes e com custos humanos e políticos elevados, Israel poderá optar por operações cirúrgicas e limitadas no tempo, mas com impacto estratégico. Falamos de golpes de precisão para enfraquecer a capacidade do inimigo, mas sem entrar num conflito total. Manterá a pressão e deterá os avanços do opositor, sem se envolver em guerras convencionais prolongadas.

Falamos de um arranjo funcional e pragmático que permita gerir o conflito sem resolver as suas causas. A situação de guerra não desaparecerá, mas transformar-se-á. Deixará de ser guerra total para se tornar uma gestão permanente e controlada da atrição, como a que se vive no Líbano. Este é o modelo que Israel procurará reproduzir. Nem vitória, nem paz, mas dissuasão e controlo permanente. Simultaneamente, Israel vai manter o equilíbrio de forças na região, evitando tanto a ascensão hegemónica xiita como a sua substituição por forças sunitas radicais.

Do blogue Estátua de Sal