or Alberto Carvalho, in Facebook, 16/07/2025, Revisão da Estátua)

“Fanfarrão” não é insulto — é definição.
Um fanfarrão é alguém que fala alto para esconder o vazio; que se impõe com pose para disfarçar a ausência de substância.
Segundo o dicionário, é “quem ostenta qualidades que não possui”.
André Ventura construiu uma carreira política precisamente nesse molde: retórica inflamada, soluções nulas, e uma habilidade notável para converter o ressentimento popular em espetáculo.
Ora, chamar-lhe fanfarrão não é insulto — é diagnóstico clínico.
E, no entanto, foi essa palavra — fanfarrão — que motivou uma chamada de atenção do Presidente da Assembleia da República.
Não a exposição pública dos nomes de crianças estrangeiras. Não a construção de uma narrativa racista disfarçada de “preocupação cultural”. Não o uso de menores como arma ideológica. Nada disso mereceu reparo. Apenas o adjetivo.
Este episódio, que à superfície pode parecer menor, revela uma falha profunda na presidência parlamentar: a incapacidade de distinguir entre insulto e verdade, entre linguagem vigorosa e discurso de ódio, entre defesa da dignidade humana e “falta de maneiras”.
Ao pretender preservar a “elevação” do debate, o Presidente da Assembleia acaba por o nivelar por baixo. E, sem se dar conta, torna-se cúmplice do “fanfarrão” — porque o legitima como vítima, e não como instigador do ruído.
Esta neutralidade fingida do Presidente da Assembleia da República — este desejo de parecer árbitro quando há um dos lados que joga com facas — é o que mata as democracias por dentro.
O Presidente da Assembleia pode ter agido com educação, mas faltou-lhe coragem. E, nestes tempos, ser educado sem ser corajoso é ser útil ao “fanfarrão”.
No fundo, o silêncio da Assembleia não é institucional — é estrutural. É um silêncio cúmplice, que prefere punir a palavra que incomoda do que conter o discurso que ameaça. Ventura sabe disso. Alimenta-se disso. Cresce disso.
E assim, o adjetivo certo passou a ser repreendido, enquanto a calúnia subtil, a insinuação perigosa e o ataque ao elo mais frágil — crianças imigrantes — passam como se fossem apenas parte do jogo. Não são.
O “fanfarrão” grita para ser temido. Mas é o silêncio respeitoso e cobarde que o torna forte. E esse silêncio, hoje, tem um nome: Presidência da Assembleia da República.
Do blogue Estátua de Sal
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