André Ventura deu a conhecer
Acácia, a sua coelha de estimação, num segmento da CMTV. Revelou que era o
favorito do animal e que a relação entre a coelha e a família era estável. No
entanto, Acácia conta-nos uma história diferente.
Acácia, como é a sua relação com
o deputado do Chega, André Ventura?
Olhe, digo-lhe isto sem qualquer
tipo de medo de represálias, é uma relação tóxica. Tirem-me das mãos dele. O
homem tem um amor por leporídeos que eu não diria que ele tem por nenhum
humano. É uma fixação. Posso aqui adiantar que já tentei fugir. Uma vez fomos
passear à Tapada de Mafra e eu comecei a correr. Só que como passo muito tempo
em casa, não tenho a desenvoltura que devia ter na qualidade de coelha. O André
apanhou-me.
Mas é uma relação violenta?
Não, não. É uma relação de
excessivo carinho. Há esta ideia errada de que os coelhos são fofinhos, que foi
transmitida durante décadas através de filmes de animação - e antes disso pelas
fábulas. Mas eu não nasci para ser apertada e beijada. Repare, eu desejo é
perfurar buracos no subsolo. Não me apraz ser acarinhada constantemente por
este palerma.
André Ventura comprou-a há sete
anos, já está com ele há bastante tempo.
Bastante tempo? Isso é mesmo eufemismo típico de humanos. Eu estou com ele desde sempre. Nunca conheci outra realidade. Note que os coelhos vivem no máximo até aos dez anos. Eu vou fazer oito e não aguento mais. Se amanhã um Ford Fiesta me passasse por cima, eu não me importava. Fala-se muito da eutanásia… eu, na verdade, tenho pensado muito no suicídio assistido para mim própria.
Através de barbitúrico, como se
tem falado?
Não, através de coelho à caçador.
Nós os coelhos temos este sentimento de propósito. Os humanos por vezes doam os
seus órgãos para a medicina, nós cedemos o nosso corpo ao prato do dia de uma
tasca de Marvila.
É verdade que assiste sempre às
intervenções de André Ventura na televisão?
É mentira. Eu quase não vejo
televisão. Sou mais de ler, gosto muito do Lewis Carrol. Apesar de, em Alice no
País das Maravilhas, ter propagado o estereótipo de que os coelhos chegam
sempre atrasados. Cinema também consumo, vi aquele do Jojo Rabbit, mas fugiu
muito ao tema. Quanto ao André, vi uma ou duas vezes e ia bolsando alfafa.
Não concorda com as suas posições
políticas?
Quais posições? Ele muda de
posição como quem muda de feno favorito. Não se esqueça que eu já estava aqui
quando ele entregou a tese. Até cheguei a comer um bocado da folha de rosto.
Concordava com grande parte do que ele escrevia. Agora não. Digo-lhe aqui que
fiz cocó em cima do programa do Chega. Sabe que eu produzo muito cocó. Sinto-me
é ameaçada por partilhar habitação com alguém que produz ainda mais fezes.
Qual é a sua posição sobre o caso
Marega?
Olhe, é muito simples. Nós, na
comunidade roedora, racistas é à paulada. Costumamos ter muitos problemas. Quem
sofre mais são as lebres, são vistas como selvagens, nómadas, sem regras.
Também há um grande problema com os porquinhos das Índias, por causa das
culturas diferentes. Há também a ideia de
que o furão é um roedor que pratica a criminalidade, mas as estatísticas
mostram-nos o contrário. A verdade é que há uma certa elite de chinchilas que
lucra desta divisão e que ignora que temos um problema de racismo. Como coelha
branca, só tenho de assumir o meu privilégio.
Obrigado, Acácia. Tem aqui uma
cenoura.
Isso é racismo.
Opinião: Manuel Cardoso
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