Sempre com a sua tendazita
(Chapéu de sol ou chuva) a vender os seus tremoços. A mocidade de hoje não tem
conhecimento destas figuras populares, que para sobreviverem, compravam os
tremoços crus, punham-nos nos ribeiros a demolhar dentro de sacos de
serapilheira e depois coziam-nos.
No intervalo das aulas, íamos à
Jóia – é um ribeiro, dizem que é a nascente do rio Ferreira – ali fazia-se um
buraco nos sacos para roubar alguns. Não tinham paladar era preciso pôr-lhe
sal, mesmo assim comíamo-los. Coisas de crianças e de quem não tinha dinheiro
para os comprar. Quando tínhamos um tostão a nossa primeira acção era ir
comprar os deliciosos tremoços.
Tempos de miséria. Ainda me
lembro de se fazer caminhadas até ao Coração de Jesus – era um lugar que tinha
a imagem em pedra do Coração de Jesus e por isso ficou com esse nome. As
catequistas organizavam um passeio a pé a esse local – era um pouco longe - e
davam-nos de lanche tremoços, azeitonas e broa. Tanto na ida como na vinda, lá
íamos a cantar: Ao coração de Jesus / Eu p’ró ano cá hei-de vir / Ou casado (a)
ou solteiro (a) / ou criado (a) de servir.
Hoje quando se vai ao super
mecardo, compra-se às sacas. E não temos as nossas queridas tremoceiras para os
comprar ou roubar.
Viva a Se Rosa Pacheca
junto da sua tendinha,
à porta do Venturinha,
minha memória não seca.
Foram milhares, os moços
das escolas da Avenida,
que à Jóia numa fugida
lhe foram roubar tremoços.
Hoje, esta santa mulher,
tenha-a Deus onde quiser
que eu na pobre mente minha
hei-de vê-la a vida inteira,
como Rosa tremoceira
à porta de Venturinha.
Poesia ilustrada: Rodela / Inô Vítor
Sem comentários:
Enviar um comentário