Manhã de sete de Outubro de mil novecentos e cinquenta e seis. Saí de casa acompanhado pela minha mãe para dar início ao meu primeiro dia escolar. Para mim é novidade para minha mãe não. Dois anos antes tinha feito o mesmo com a minha irmã mais velha, Amélia.
Depois da chamada ali fiquei com mais trinta e tal crianças todos do sexo masculino - naquela altura havia as escolas masculinas e femininas, era proibido juntar meninos e meninas - a partir daquele dia ficamos a ser companheiros, a maioria deles, pela vida fora.
Escolas Amarelas
O Sr. Professor Valente, já na casa dos sessenta anos, mas ainda bem conservado e uma disciplina rígida, era um mestre-escola, que hoje em dia qualquer Ministro da Educação necessitava nas suas fileiras. Quando por algum motivo não podia dar aulas, era substituído pela sua esposa «também professora» mas na sala era a anarquia total. Era de uma bondade extrema e para se segurar numa turma como a minha era difícil. Só pessoas do género do professor Valente ou como mais tarde na quarta classe – andei até à terceira classe com o professor Valente - vim a encontrar a Sr.ª professora Adelina.
Passei a ter aulas no período de tarde. Todos os dias de manhã deslocava-me à cantina escolar para ir tomar o leite em pó. Naquela altura os mais necessitados socorriam-se destas dávidas para matar a fome. Morava a cerca de um quilómetro da cantina e a minha mãe esfarelava um bocado de broa velha e punha um bocado de açúcar numa malga para ir tomar o dito leite em pó.
Como ficava um pouco distante a fome e a lambarice eram mais fortes quando chegava à cantina já tinha devorado tudo, depois só bebia o leite. Ao meio dia lá aparecia para comer o caldo e que bom que era, com um feijão vermelho grande, era uma delícia. Nos dias do óleo de fígado de bacalhau bem me apetecia não ir mas, a fome…! Fechava os olhos e tapava o nariz, era assim que o tomava.
Quando vinha para o recreio tinha colegas, poucos, com mais posses, desembrulhavam uns pequenos embrulhos e de lá tiravam o lanche e não ofereciam a ninguém. Não podiam oferecer senão não comiam nada – eram mais os que não lanchavam.
Entre esses ditos abastados havia um que todos os dias me pedia para copiar os meus deveres o que eu deixava. Como não me oferecia do seu lanche a partir de um certo dia pus-lhe como condição ou me dava um pão com manteiga – era o que ele lanchava – ou ia bater a outra porta.
Depois desta proposta todos os dias ansiava pela hora do recreio.
A partir da terceira classe veio uma ordem em que os alunos eram obrigados quando entrassem na sala de aula a vestir uma casaca da mocidade Portuguesa, e a cantar o lá vamos cantando e rindo.
Passei a ter aulas no período de tarde. Todos os dias de manhã deslocava-me à cantina escolar para ir tomar o leite em pó. Naquela altura os mais necessitados socorriam-se destas dávidas para matar a fome. Morava a cerca de um quilómetro da cantina e a minha mãe esfarelava um bocado de broa velha e punha um bocado de açúcar numa malga para ir tomar o dito leite em pó.
Como ficava um pouco distante a fome e a lambarice eram mais fortes quando chegava à cantina já tinha devorado tudo, depois só bebia o leite. Ao meio dia lá aparecia para comer o caldo e que bom que era, com um feijão vermelho grande, era uma delícia. Nos dias do óleo de fígado de bacalhau bem me apetecia não ir mas, a fome…! Fechava os olhos e tapava o nariz, era assim que o tomava.
Quando vinha para o recreio tinha colegas, poucos, com mais posses, desembrulhavam uns pequenos embrulhos e de lá tiravam o lanche e não ofereciam a ninguém. Não podiam oferecer senão não comiam nada – eram mais os que não lanchavam.
Entre esses ditos abastados havia um que todos os dias me pedia para copiar os meus deveres o que eu deixava. Como não me oferecia do seu lanche a partir de um certo dia pus-lhe como condição ou me dava um pão com manteiga – era o que ele lanchava – ou ia bater a outra porta.
Depois desta proposta todos os dias ansiava pela hora do recreio.
A partir da terceira classe veio uma ordem em que os alunos eram obrigados quando entrassem na sala de aula a vestir uma casaca da mocidade Portuguesa, e a cantar o lá vamos cantando e rindo.
Sem comentários:
Enviar um comentário