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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

O país que não vai de férias:

Há outra realidade que estes incêndios nos mostram: o país que não vai de férias, mas que só é falado nas férias.
Casas e terras abandonadas, idosos sozinhos no interior, famílias a viverem com salários baixos, jovens sem perspetivas de futuro na terra onde nasceram.
Mais de 2/3 do território nacional está sistematicamente ausente dos grandes debates nacionais e dos orçamentos do Estado, apesar de durante o mês de Agosto estar todos os dias nas nossas televisões. Lá para Outubro voltará a desaparecer das nossas televisões. E tal como o território, também as pessoas que lá vivem serão esquecidas durante o resto do ano. É assim há décadas e todos temos responsabilidades. Na hora da verdade, o pouco investimento público nacional vai para o litoral e quase sempre para os mesmos sítios. Lá nos explicam que é no litoral que moram as pessoas. Pois é, e se continuarmos a insistir na mesma estratégia ainda morarão mais. As estradas, as escolas e os centros saúde que construímos no litoral nunca serão suficientes se não investirmos a sério no desenvolvimento do interior.
Continuar a confiar no mercado para desenvolver o interior é só insistir no erro. O mercado e ausência do Estado são os responsáveis pelo despovoamento do interior.
É preciso Estado, uma estratégia e investimento público a sério.
E não vale a pena virem com o argumento do custo financeiro. Um país concentrado no litoral fica muito mais caro: crescimento urbano desordenado, habitação cara, congestionamento e horas perdidas no trânsito, pressão sobre os serviços públicos nos grandes centros urbanos, serviços públicos inviáveis no interior e um elevado custo ambiental.
Não deixa de ser paradoxal que o país que sempre se queixou de ser pequeno ainda se tenha reduzido a uma pequena e estreita faixa do litoral.

Fotografia: D.R. / Expresso 

Pedro Nuno Santos


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