sábado, 19 de julho de 2025

As (ainda) impercetíveis novas qualidades do Mundo em mudança:


Associo-me, muito naturalmente, à reação de muitos dos que viram o debate do Estado da Nação e sentiram-se indignados pela conduta de Aguiar Branco na condução dos trabalhos. A forma como Pedro Delgado Alves insurgiu-se contra ele, por ter advertido o líder socialista sobre o uso do termo "fanfarrão" para com André Ventura, foi um momento crucial.

É verdadeiramente desconcertante que tenha dado tanto peso a uma palavra como "fanfarrão", assaz moderada quando se aplica a alguém que faz da mentira uma estratégia reiterada de propaganda e não hesita em instrumentalizar nomes de crianças para promover discursos racistas e xenófobos. Parece que Aguiar Branco, ao contemporizar com o arruaceiro do Chega, e comportar-se quase como seu "guarda-costas" face a críticas que são mais do que justas, valida a visão de quem o considera o pior Presidente da Assembleia da República em democracia.

O debate só veio reforçar a coligação de facto que une a AD e o Chega e se tornará ainda mais evidente à medida que o PS, com uma liderança mais enérgica, retomar a linha de combate mais efetiva ao governo, possivelmente em maior ou menor concertação com as demais forças de esquerda.

Tenho a esperança de que as esquerdas voltem a ressurgir, impulsionadas pelo agravamento da inflação e da crise social e económica. É visível que esta (des)governação não tem qualquer ideia de como obviar a estes problemas. O aumento generalizado dos preços, a crónica falta de casas, a escassez de professores e a incapacidade de dar respostas no SNS são fatores que, inevitavelmente, tenderão a aumentar o descontentamento social que já começa a sentir-se nas ruas.

Neste contexto, vem à colação a newsletter de Ana Sá Lopes, onde aborda o discurso de ódio em crescendo nas redes sociais, que identifica como expressão de um racismo larvar na sociedade portuguesa. É irónico e triste pensar que, para essa gente que propaga o ódio, as consequências são ignoradas: sem imigrantes, o PIB decresceria e a Segurança Social não conseguiria continuar a pagar as pensões.

Muitos dos que se colam à agenda política de André Ventura e Leitão Amaro são os mesmos que, quando a economia definhar, não terão casa nem emprego. E, no caso dos reformados, arriscam-se a ficar com pensões ainda mais miseráveis.

Há um toque de cinismo na escrita da jornalista quando sugere que isso será o que merecerão "para não serem tão grunhos", mas ela própria admite ser desejo que é de bom tom não formular. É uma reflexão que, apesar de dura, sublinha a desconexão entre as posições ideológicas das direitas e a sempre dinâmica realidade económica e social.

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