sábado, 22 de fevereiro de 2020

Estava uma noite escura:

Aliás, como breu. Que ainda é mais escuro. Luz pública era um luxo. Estou a referir-me a mil novecentos e sessenta. O meu trajecto era de ter medo. Mas tinha saído de casa e a ela tinha de regressar.

Agora é que maldizia a minha saída nocturna. Mas a Televisão e os programas que ela transmitia a isso me levava. Principalmente aos Sábados. Também era nestes dias que os meus pais me deixavam ir ao Café ver o Bonanza. Com onze anos aventurava-me.

Acabado o filme cogitava com os meus botões e o cabelo eriçado que é o mesmo que dizer em “pé”: tens de ser forte e mandar o medo às malvas. Isso era o que pensava. Mas entre o medo e o pensamento ia uma distância de quase um quilómetro. A distância não era muita. Agora o trajecto era tenebroso.

O ter de passar os lugares da Vista Alegre, Calvário e chegar à Bouça não era coisa de somenos. Era arrojado. Para mais nos dias de Inverno e por volta da meia-noite. Rais-parta quem inventou aquela caixa que se vê pessoas e filmes! Se assim não fosse não estava agora que nem um feijão me cabe no “traseiro”.

Mais valia voltarmos ao tempo em que Senhor Hernâni Cabral projectava filmes nas paredes em frente à barbearia do Rosário e do Aprígio da Riqueta. A mesma que servia para aos Domingos de manhã os Bombeiros de Freamunde fazer treinos e simulacros de socorro a pessoas pela sacada da casa.

Ah quando me dá para ir ao baú da minha memória “cérebro” o que daí advém.

Mas voltemos ao meu regresso a casa. Lá me meti a caminho. Com medo e sobressaltos cheguei a casa. Era mais uma façanha a coleccionar aos poucos anos da minha vida.

Agora no aconchego dos cobertores revia as cenas do Bonanza. Que bela tareia o Hoss deu no atrevido que se meteu com ele. A rapidez com que o Joe sacou das pistolas para pôr fim àquela contenda. O Adam era mais parlamentar como se ousa dizer hoje. Já o pai com os seus cabelos brancos os repreendia e para usarem os bons ensinamentos que lhes tinha administrado. Era nisto que pensava.

Esperava que chegasse mais um Sábado para ir até ao Café ver mais um programa de Televisão. Também com onze anos e uma semana de segunda a sábado de trabalho quem não ansiava por uma ida ao Café!

Mesmo que a noite fosse escura ou mesmo como breu.

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